José e Maria trocariam e-mails? Fariam reservas online para a viagem ao Egito? Os Reis Magos comprariam incenso, mirra e ouro pela internet? Que tal seguir a Estrela de Belém pelo twitter?
sexta-feira, 24 de dezembro de 2010
domingo, 12 de dezembro de 2010
QUERIDO PAPAI NOEL!
Reencontrei esta crônica de Natal, que escrevi em forma de carta há cinco dezembros, exatamente em 2005. Fiquei surpresa com a atualidade. Parece que foi escrita hoje. Ao relê-la, tive a sensação de não ter sido boa menina. Definitivamente, Papai Noel não me atendeu. Mas, como a persistência é minha marca — sou do tipo que esperneia e corre atrás do que quer, até a exaustão. “Capricórnio puro”, diz um amigo... —, decidi reencaminhar a mesma carta, torcendo como nunca para que meus pedidos sejam atendidos de vez.
Querido Papai Noel:
Há anos que não lhe escrevo. Na última vez, me lembro bem, pedi um fogãozinho e um jogo de forminhas para fazer bolos de chocolate de barro. E você me atendeu. A alegria foi tanta que estabeleci um contato imediato entre meus devaneios infantis e você. Após a entrega dos presentes, corri para o quintal a tempo de surpreendê-lo decolando com suas renas por entre as copas dos cinamomos. O rastro do trenó encheu de estrelas os meus olhos infantis.
Mas o tempo tratou de quebrar essa magia e passei a duvidar. Engavetei sonhos, joguei fora a alegria do Natal e perdi o brilho do olhar ao reencontrá-lo travestido em tios e amigos com almofadas na barriga e barbas de algodão.
E hoje, madura, após anos de sonhos inacabados e alegrias acabadas, me vi com uma saudade enorme e com vontade incontrolável de reanimar sentimentos adormecidos que faziam a menina sonhar acordada. Por isso decidi lhe escrever.
Meu querido Papai Noel, resgate no meu coração aquela alegria ingênua e pura. Devolva-me a fé nas pessoas e, em especial, nos políticos do Brasil. Não permita, nunca, que eu ache natural o pagamento de propinas e a compra de votos. Permita, sempre, que eu continue a me indignar com a falência da educação e com o descaso com a saúde pública. E, acima de tudo, que a injustiça não se limite a me entristecer... mas que ela me dê forças para que, em vez de sentir-me impotente, eu consiga agir de imediato.
Papai Noel, renasça! Abandone as propagandas e o comércio de inutilidades e dê a cada criança brasileira o direito e o acesso à saúde e à educação de qualidade. Que cada uma delas possa brincar livremente, deixando o trabalho para seus pais. E não se esqueça: traga vergonha para muitos senhores e senhoras que frequentam nosso Planalto Central. Dê ao país o maior de todos os presentes: que a luz do discernimento, da honestidade e da ética ilumine Brasília. Por favor, Papai Noel, mantenha essa chama acessa pelo menos por um ano. Pelo menos em 2011...
Só mais um pedido, o último deles. Se não for muito difícil, distribua um pouco dessa luz também em Mato Grosso do Sul.
quarta-feira, 1 de dezembro de 2010
“Mankind is no Island”
Tropfest é o maior festival de curtas-metragens do mundo. Começou há 17 anos em Sydney e no ano retrasado teve a sua primeira edição em Nova York.
O vencedor de 2008 foi este filme: “Mankind is no Island”, de Jason van Genderen, com música original de John Roy. Totalmente realizado utilizando um celular e filmado nas ruas de Sydney e Nova York, o curta-metragem teve custo de produção de 40 dólares!
O que é bom, belo e sensível, não é necessariamente caro e tampouco envelhece.
segunda-feira, 15 de novembro de 2010
Jennifer Maestre — Uma mestra em esculturas, a lápis
Descobri Jennifer Maestre ao procurar uma foto das esculturas de um amigo. Gostei de imediato das formas, das cores e do aspecto lúdico do trabalho, montado com pequenos e exatos pedaços de lápis colorido. A atração pela obra talvez esteja exatamente nisto: TOQUINHOS DE LÁPIS COLORIDO – uma imagem que remete à infância e ao prazer de colorir levado ao extremo, até o menor toquinho possível que ainda permitisse aos pequenos dedos extrair o último tantinho de cor.
Essa mestra, que circula por todo o mundo com suas esculturas, nasceu em Johannesburg, África do Sul. Seu trabalho com lápis surgiu de uma curiosa fonte de inspiração: o ouriço-do-mar. Em seu site, Jennifer explica: “Os espinhos do ouriço, tão perigosos mas tão belos, servem de alerta explícito de que não devem ser tocados. Sua textura, no entanto, nos atrai ao toque, apesar das possíveis consequências. À medida que essa tensão se desvela, sentimos um puxão e um empurrão, o desejo e a repulsão. Os segmentos de lápis apresentam aspecto afiado e liso ao mesmo tempo — duas experiências muito distintas de estética e textura”.
Uma entusiasta sobre seu trabalho, a escultora afirma que “o paradoxo e a surpresa são inerentes à minha escolha de materiais. Utilizo grande quantidade de objetos produzidos industrialmente para criar formas flexíveis que lembram os formatos orgânicos de animais e da natureza. Os lápis são objetos comuns, e aqui [na escultura] esses objetos anônimos se tornam a estrutura. Certamente há uma fragilidade no aspecto por vezes brutal dessas esculturas, uma vulnerabilidade que é desmentida pela textura atemorizante”.
A foto acima é de uma das esculturas que representa uma estrela-do-mar (“parente próxima” do ouriço-do-mar) em visão ventral (ou seja, olhada por baixo). Conheça mais sobre a escultora e suas obras:
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domingo, 14 de novembro de 2010
Dois gatos miando na ópera
Com “letra” e música de Rossini, o Duetto di due Gatti (Dueto de dois Gatos) é uma ópera bufa. Montserrat Caballé dizia que Rossini, que sempre compôs para vozes femininas, fez esta peça musical especialmente para que as mulheres não confundissem a letra dos versos. E assim, no lugar de palavras... miados! Um compositor no mínimo irônico.
Divirta-se com a apresentação dos dois sopraninos do coral “Les Petits Chanteurs a la Croix de Bois” (Os Pequenos Cantores de “Croix de Bois”) em um concerto em Seul, Coreia.
segunda-feira, 8 de novembro de 2010
domingo, 7 de novembro de 2010
CineArt – UFMS apresenta: TUDO SOBRE MINHA MÃE
TUDO SOBRE MINHA MÃE, filme espanhol de 1999, com roteiro e direção de Pedro Almodóvar e premiado com o Oscar de “Melhor Filme Estrangeiro” em 2000, começa com o dia do aniversário de Esteban, que ganha de presente da mãe, Manuela, um ingresso para ver a nova montagem da peça “Um Bonde Chamado Desejo”, estrelada por Huma Rojo. Após a peça, ao tentar pegar um autógrafo de Huma, Esteban é atropelado e morre. Manuela resolve então ir de encontro ao pai de seu filho, que vive em Barcelona, para dar-lhe a notícia. No caminho encontra o travesti Agrado, a freira Rosa e a própria Huma Rojo. “A ética tirada do tradicional. Tudo sobre minha mãe é ainda muito sobre meu pai”.
Assista ao trailer (abaixo postado).
CineArt - UFMS apresenta “TUDO SOBRE MINHA MÃE”, de Almodóvar
DATA: Amanhã, dia 8 de novembro – segunda-feiraHORÁRIO: às 13h
LOCAL: Sala do Mestrado em Física, na Unidade V
ENDEREÇO: Universidade Federal de Mato Grosso do Sul – UFMS – Campo Grande
ENTRADA FRANCA
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sábado, 6 de novembro de 2010
Mulheres na Arte Ocidental — 500 anos de olhares femininos
Ao som do violoncelo de Yo-Yo Ma tocando Bach, você vai se encantar com a fusão de imagens realizada por Philip Scott Johnson nesse curta-metragem de animação: “500 Years of Female Portraits in Western Art” (“500 Anos de Retratos Femininos na Arte Ocidental”). Uma montagem criada com rostos de mulheres extraídos de obras-primas de Da Vinci, Rafael, Botticelli, Ticiano, Rubens, Manet e Renoir. Veja também os retratos femininos presentes em detalhes das telas de Gauguin, Matisse, Klimt, Dalí... A mostra virtual termina ao cobrir exatos 500 anos, com uma obra de Picasso de 1946.
Vejo e revejo a sucessão de rostos e percebo que cinco séculos de visões, escolas e tendências, da Renascença ao Movimento Moderno, embaladas pelo som de um músico americano nascido na França e de origem chinesa, ao interpretar uma peça de compositor alemão, são apenas uma pequena fração, embora magnífica, da força e da delicadeza com que podem se manifestar a criatividade e a diversidade humanas.
E vou dormir em paz, embalada pela harmonia feita de multiplicidades que a humanidade sabe e pode produzir.
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sexta-feira, 5 de novembro de 2010
Um livro que abre porteiras do Pantanal
Porteiras Assombradas do Paraíso ― Embates da Sustentabilidade Socioambiental no Pantanal, de Icléia Albuquerque de Vargas, será lançado hoje, dia 5 de novembro, na Livraria Lê, em Campo Grande.
A autora informa que “através de uma construção interdisciplinar no domínio do meio ambiente e do desenvolvimento, o livro analisa os conflitos e embates dos processos de gestão do território e da paisagem do Pantanal Mato-grossense em sua porção sul [...], aprofundando o debate sobre territorialidade, identidade, sustentabilidade, governança, patrimônio e pertencimento. A obra propõe desvelar o jogo que permeia as perspectivas do discurso da sustentabilidade ambiental”.
No livro, “o Pantanal é analisado enquanto uma região complexa, palco de inúmeros interesses conflitantes, tais como áreas de proteção ambiental, patrimonialização da natureza, cultura tradicional, paisagem dinâmica e de especial valor cênico, enorme rebanho bovino produzido nos moldes tradicionais e anseios por modernização”.
Com essa abordagem, o livro de Icléia Vargas não poderia ficar fora da programação do 3.º Seminário Internacional América Platina, que está acontecendo em Campo Grande, focalizando o tema “Identidade, diversidade e linguagens do território platino”.
Saiba mais sobre a autora: Icléia Albuquerque de Vargas possui graduação em Geografia pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), mestrado em Educação pela UFMS e doutorado em Meio Ambiente e Desenvolvimento pela Universidade Federal do Paraná, com estágio de doutorado no LADYSS (Laboratoire Dynamiques Sociales et Recomposition des Espaces), Paris X Nanterre. É Professora Adjunta do Departamento de Geociências (DGC) do Campus de Aquidauana (CPAQ) da UFMS. Atua como professora nos cursos de Geografia e de Turismo (DGC/CPAQ) e no curso de Pedagogia (DED/CCHS) e também como professora e orientadora no curso de Mestrado em Ensino de Ciências (linha de pesquisa Educação Ambiental) do CCET/UFMS. Faz parte de grupos de consultores das revistas Ambiente & Educação (FURG), Desenvolvimento e Meio Ambiente (UFPR) e Ensaios e Ciência (Campo Grande). É membro do NEER (Núcleo de Estudos em Espaço Representação), do GTTUR/UFMS (Grupo Temático de Turismo e Ambiente) e do GEPEA-MS (Grupo de Estudos e Pesquisas em Educação Ambiental de Mato Grosso do Sul). Tem experiência na área de Educação, com ênfase em Geografia Escolar e Disciplinas Escolares, atuando principalmente nos temas educação ambiental, geografia cultural, Pantanal, meio ambiente, turismo e percepção ambiental.
LANÇAMENTO DO LIVRO:
Porteiras Assombradas do Paraíso ― Embates da Sustentabilidade Socioambiental no Pantanal, de Icléia Albuquerque de VargasDATA: Hoje, sexta-feira, dia 5 de novembro.
HORÁRIO: 20h
LOCAL: Livraria Lê ― Rua Antônio Maria Coelho, 3862 ― em Campo Grande.
TELEFONE: (67) 3326-1210
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Humberto Espíndola ― Duas telas em capa de livro
De imediato reconheci elementos da pintura de Humberto Espíndola quando vi a capa do livro Porteiras Assombradas do Paraíso ― Embates da Sustentabilidade Socioambiental no Pantanal, de Icléia Albuquerque de Vargas ― veja o post Um livro que abre porteiras do Pantanal.
E a autora me esclareceu: “Observe que a ilustração da capa é uma produção do Lennon (da Editora UFMS) feita a partir de fotografias de duas telas do Humberto Espíndola (uma delas, inclusive, inédita, apesar de antiga)”.
Parabéns ao Lennon pela bela fusão! Que bom que o Humberto permitiu o acesso tão providencial ao Pantanal e ao seu boi mitológico através de uma porteira mágica.
Parabéns à Icléia, não só pelo lançamento da obra, mas por permitir que a ilustração da sua capa mostre um pouco da magia das imagens do artista plástico Humberto Espíndola:
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quarta-feira, 3 de novembro de 2010
Haruo Ohara ― lavrador e fotógrafo
Ele nasceu no Japão e imigrou aos 17 anos para o Brasil, com os pais e irmãos, se estabelecendo na cidade de Londrina, PR, onde se tornou lavrador e fotógrafo. Haruo Ohara (1909-1999) cultivou a terra ao longo de boa parte de sua vida adulta e, simultaneamente, fotografou sua vida e de seus familiares, gravando imagens de uma simplicidade, sensibilidade e delicadeza poucas vezes observadas.
Considerado atualmente um dos mais importantes nomes da fotografia brasileira da segunda metade do século XX, seu acervo foi doado pela família ao Instituto Moreira Salles (IMS), em janeiro de 2008. O acervo ― formado por cerca de oito mil negativos em preto e branco, dez mil negativos coloridos, dezenas de álbuns e centenas de fotografias de época, além de equipamentos fotográficos, objetos, documentos pessoais, diários e livros ― permite um estudo aprofundado da obra do fotógrafo e de sua vida como imigrante e pequeno agricultor no norte do Paraná.
Conheça mais sobre Haruo Ohara e seu acervo:
FONTE DA IMAGEM E DO TEXTO: Instituto Moreira Salles - IMS.
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“Em busca do elo perdido” – Um enredo para Indiana Jones
FONTE DA IMAGEM: Revista PLoS ONE
No lugar de “a arte imita a vida”, esta descoberta arqueológica faz o estilo “a vida imita a arte”. Estes são alguns dos fatos que ocorreram: filmagens nos locais das escavações em que foi encontrado o fóssil; descrições das etapas de sua descoberta; preservação e descrição científica; e, finalmente, publicação no periódico científico online Public Library of Science One (PLoS ONE), com lançamento simultâneo de um documentário para a televisão e um livro: “The Link” (O Elo).
Além de toda essa agitação, um artigo publicado na revista inglesa The Economist relata o curioso detalhe de que “o fóssil foi extraído por colecionadores particulares cerca de 26 anos atrás e vendido há dois anos para o Museu de História Natural de Oslo, Suécia, em uma negociação feita em um bar de Hamburgo, Alemanha. Indiana Jones ficaria orgulhoso”.
E então? Quando o filme entra em cartaz?
Leia o polêmico artigo científico na íntegra clicando AQUI.
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terça-feira, 2 de novembro de 2010
segunda-feira, 1 de novembro de 2010
O menor filme de “stop-motion” do mundo
Tudo começou com uma ideia de um professor… Ao inventar o CellScope, um dispositivo da Nokia acoplável a um microscópio, o Professor Fletcher inspirou um minifilme, dirigido pela “Sumo Science”, da produtora britânica Aardman Animations. A estrela é uma menininha de 9 mm chamada Dot (“Ponto”), que vive em um mundo microscópico. Todos os minúsculos detalhes foram filmados com tecnologia CellScope e um celular Nokia N8, com câmera de 12 megapíxels e lentes Carl Zeiss.
[Obrigada ao Prof. Paulo Robson - UFMS - pela dica.]
[Obrigada ao Prof. Paulo Robson - UFMS - pela dica.]
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Professoras, maçãs e outras tentações
O texto abaixo não é meu ― foi escrito por ANA ELISA RIBEIRO ―, mas eu adoraria ter sido a autora. Delicie-se com a crônica desta mestra mineira sorvendo cada frase, como deve ser apreciada uma poção especial:
Foi uma professora que me disse que títulos de textos devem resumir a ideia principal. Tenho a maior antipatia desse ensinamento até hoje. Desde que descobri que a vida não é assim, desse jeito, exatamente, comecei a refrear meus impulsos de acreditar em tudo o que os professores diziam. E olhem que eu nem sou dessa tal geração Y ou digital ou nativa isto ou aquilo. Eu era uma pobre estudante de escola pública (boa, frise-se), num mundo ainda popularmente analógico (nos bastidores, o computador e a internet já existiam).
Para compensar a decepção com a professora que desensinava a fazer títulos inteligentes, tive boas aulas de Física, melhores ainda de Química e um espetáculo de aula de Biologia. Só consigo explicar mínimas coisinhas para o meu filho hoje porque as aulas sobre DNA e RNA foram bacanas. E aquelas sobre campo magnético, empuxo e vetores ficaram grudadas na memória, na boa memória, diga-se. Não aquela associada, comumente, à decoreba, mas aquela de longo termo, que guarda as coisas que a gente realmente aprende.
Um único ser (estranho, aliás) nesta vida me fez aprender algo de matemática. O método não era lá muito ortodoxo, mas funcionou (talvez porque a aluna também não fosse muito certinha). O cara, que acreditava em alienígenas e dizia fazer, frequentemente, viagens astrais, dava umas eficientes aulas de escalonamento e, mais fascinante ainda, ensinava teoremas como se fossem poesia pura. Vai ver até são, mas é preciso saber experimentar. Ele se babava de tanto amor aos bichinhos. Gastava alguns quadros (negros, lousas, como prefiram, mas daquelas escritas a giz, com bastante atrito) por aula, escrevendo, escrevendo, escrevendo aquelas fórmulas imensas, cheias de meneios de lógica e visão, para, ao final, deixar a sigla, fantástica, c. q. d. Era o ápice, o auge, a epifania. Até eu, que nem era dada a essas linguagens tão abstratas, curtia demais o "como queríamos demonstrar" assinado ali embaixo, à direita do quadro-negro.
Minha maior nota no vestibular (que ainda existia e era exigente)? Química. Ela mesma, suas fórmulas, ligações, desenhos e forças. Os elementos, suas valências e seus números de massa. Muitos já se foram desta memória tão mais treinada em palavras, mas algo ainda resta.
Outro dia, participando de um trabalho em Brasília, uma equipe de revisores de português lia textos sobre enfermagem, medicina e veterinária. Lá íamos nós, passeando pelos nomes científicos, pelas espécies, pelos prontuários hipotéticos e estudos de caso. E então as aulas da escola e aquelas tidas informalmente com amigos, ex-namorados e parentes surgiam e ressurgiam na leitura dos documentos. "Cair da própria altura", dizia a revisora do Recife. Existe isso? Sim, claro, é o vulgarmente conhecido como "tombo". E me lembrei dos amigos médicos e fisioterapeutas comentando sobre os prontuários de bêbados que racharam o coco no chão. E em que momentos a gente não aprende?
Não tem jeito. Aprender é um negócio balístico, inexorável, irrefreável. Aprender é até sem querer. Abriu os olhos, aprende. Inclusive (e principalmente) coisa errada. E também as certas. Aprende com o que os outros dizem e com o que fazem, especialmente. É uma luta incessante ser professor de escola, às vezes contra todos os outros professores que atuam fora da escola. O mestre (diplomado) diz "não jogue lixo na rua, menino"; o pai do menino faz o lixo voar pela janela do carro. A mestra (diplomada) diz "não fale palavrão, menina"; a mãe da guria não se contém nem com a novela das oito, xingando todo tipo de palavra cabeluda. O professor de literatura puxa daqui e dali, adota um livro famoso, desses de autor consagrado. Lá vai a mãe do aluno processar o professor porque o livro tem palavrão. Ai, santa inocência. Santa hipocrisia.
Outro dia foi "dia do professor". É parabéns daqui e da dali. Chuva de elogios no Twitter. Distribuição de livros, cafezinho no corredor, maçãs vermelhinhas em cima da mesa. Oba, alguém me deu os parabéns assim, meio fora de contexto. Que coisa boa. Mas, vejam, eu quero minha parte em respeito. E, por que não, em dinheiro. Não sei qual dos dois renderia mais na minha poupança de dignidade.
Uma grande massa de xingos, desrespeitos e notícias passa o ano acusando o professor e a escola de todas as culpas do mundo. Além de ser malformado, incompetente e pobre, agora o professor também tem a obrigação de estar à frente em todas as tecnologias, de administrar cinco ou seis contas de e-mail e redes sociais da moda e ainda resguardar sua vida privada. Tem de estar atento ao bullying, tirar piolho dos meninos e interceptar beijos mais quentes de adolescentes no corredor. A escola tem de ser creche, prisão, educandário, lan house, restaurante e hospital. Agora é obrigação dela educar, ensinar a ler, escrever, contar, digitar, ter bons modos e colaborar, porque as assimetrias acabaram e o professor tem de assumir a postura de um mediador, facilitador ou seja lá que nome isso tenha.
Os grandes mestres do passado, aqueles da matemática c. q. d. ou da biologia das células, provavelmente já se aposentaram. Não duvido nada que as aulas da Ana Lúcia fossem muito mais bacanas e interativas hoje, com Prezi, efeitos de Flash e projetadas num quadro branco, com alta resolução. Tudo pronto, feito em casa, num pen drive, só pra ela narrar e apontar. Não duvido mesmo. O que me aluga muito é esse choque de discursos que vêm atormentar os ouvidos de quem nunca, nem um dia no ano, recebe respeito de fato, especialmente institucional. Os românticos que me desculpem, aí, nada pessoal, mas quero minha parte em salário, formação e respeito.
Ana Elisa Ribeiro
[Crônica clipada de http://www.digestivocultural.com/]
________
Sobre a autora: Ana Elisa Ribeiro é doutora em Linguística Aplicada (Linguagem e tecnologia) e mestre em Estudos Linguísticos (Cognição, linguagem e cultura) pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), onde também se bacharelou e licenciou em Letras/Português. É pós-doutora em Comunicação pela PUC-Minas (2009-2010), com pesquisa sobre layout e leitura. É professora do Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais (CEFET-MG), onde ministra disciplinas na graduação e no mestrado em Estudos de Linguagens, além de ser editora-chefe da revista Educação & Tecnologia e coordenadora geral de divulgação científica e tecnológica. Presta assessoria na área de edição, tendo atuado em diversas casas editoriais mineiras. Como pesquisadora, trabalha na interface entre linguística, comunicação, design e educação. Tem diversos textos publicados em livros e revistas, especialmente com relatos de pesquisa em temas como tecnologias e educação; história das tecnologias da escrita e da leitura; formação e atuação de editores e revisores; multimodalidade e leitura; design, usabilidade e leitura; letramentos e novas tecnologias. Também se dedica à produção cultural como cronista do Digestivo Cultural (São Paulo) desde 2003 e do jornal Letras (Belo Horizonte) desde 2007. É autora de livros de poesia e de publicações literárias coletivas no Brasil e em Portugal.
[Fonte do texto sobre a autora: Currículo Lattes de Ana Elisa Ribeiro.]
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domingo, 31 de outubro de 2010
Final de tarde com Rita Pavone
Já vesti as mesmas roupas, cantei a mesma música e dancei do mesmo jeito...
E era muito divertido (para não dizer “bárbaro”, “bacana” e “legal”)!
E era muito divertido (para não dizer “bárbaro”, “bacana” e “legal”)!
sábado, 30 de outubro de 2010
Roland Barthes: Falar/Beijar
Segundo uma hipótese em Leroi-Gourhan, foi quando pôde liberar seus membros anteriores da marcha e, portanto, sua boca da predação, que o homem pôde falar. Acrescento: e beijar. Pois o aparelho fonatório é também o aparelho oscular. Passando à postura ereta, o homem ficou livre para inventar a linguagem e o amor: talvez seja este o nascimento antropológico de uma dupla perversão concomitante: a palavra e o beijo. Assim sendo, quanto mais os homens se liberaram (com a boca) mais falaram e beijaram; e, logicamente, quando, pelo progresso, os homens se livrarem de toda tarefa manual, não farão mais do que discorrer e beijar!
Imaginemos, para essa dupla função localizada num mesmo lugar, uma transgressão única, que nasceria de um uso simultâneo da palavra e do beijo: falar beijando, beijar falando. É preciso crer que essa volúpia existe, já que os amantes não cessam de “beber as palavras dos lábios amados”. O que eles saboreiam então, na luta amorosa, é o jogo do sentido que desabrocha e se interrompe: a função que se perturba: em uma só palavra: o corpo tartamudeado.
FONTE DO TEXTO:
Roland Barthes. 2003. Roland Barthes por Roland Barthes. Tradução de Leyla Perrone-Moisés. São Paulo, Estação Liberdade. Página 158.
FONTE DA IMAGEM:
Foto de Robert Doisneau (1912-1994) – “O Beijo do Hotel de Ville” -, tirada em Paris em 1950.
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sexta-feira, 29 de outubro de 2010
Bom dia, Petrobrás! [Texto de Sonia Hess]
Bom dia, Petrobrás!
Agradeço aos senhores e senhoras, burocratas fartos de sabedoria, pela fumaça que mina a saúde dos brasileiros. Os 2000 ppm de ENXOFRE [duas mil partes de enxofre por milhão] que insistem em não retirar do diesel nos fazem experimentar sensações indescritíveis quando somos banhados pelas nuvens de materiais tóxicos emitidas por ônibus, caminhões e outros veículos.
Os japoneses, europeus e norte-americanos não têm esta experiência, já que em seus países, o diesel não pode conter mais do que 50 ppm do fétido e perigoso componente. Não haverá punição aos senhores e senhoras, porque seu crime é discreto. Mas, em algum momento, com certeza, também a sua percepção irá denunciar que isto não é correto, e que as mais de 4 000 mortes anuais causadas pela poluição atmosférica, somente na cidade de São Paulo, cobrarão um preço. Se a maioria das pessoas ainda não sabe disto, eu e outros tantos sabemos!
[Sonia Hess é engenheira química, mestre e doutora em Química pela UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina), com pós-doutorados no Instituto de Química da UNICAMP e na Università Cattolica del Sacro Cuore de Roma. Atualmente é professora e pesquisadora da UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul).]
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"Ficha Limpa" está valendo... JÁ!
O Supremo Tribunal Federal julgou um recurso de Jader Barbalho (do Pará, cuja candidatura ao Senado foi barrada), em uma sessão longa e tumultuada. Quando os ministros novamente empataram em 5 a 5 sobre o mérito da discussão, o ministro Celso de Mello sugeriu que fosse mantida a decisão do Tribunal Superior Eleitoral de considerar a Lei da Ficha Limpa constitucional e válida para este ano. E a proposta foi aprovada por 7 a 3. Que coisa boa! Todos os votos dados aos “fichas sujas” na eleição de 2010 são nulos. Mesmo que esses corruptos tenham tido uma votação estrondosa, eles estão fora do páreo.
A LEI DA FICHA LIMPA não fere a constituição e sua aplicação é imediata!
Vejo um forte facho de luz no fim do túnel!
quinta-feira, 28 de outubro de 2010
Eduardo Galeano: A leitora
Quando Lucia Peláez era pequena, leu um romance escondida. Leu aos pedaços, noite após noite, embaixo do travesseiro. Lucia tinha roubado o romance da biblioteca de cedro onde seu tio guardava os livros preferidos.
Muito caminhou Lucia, enquanto passavam-se os anos. Na busca de fantasmas caminhou pelos rochedos sobre o rio Antioquia, e na busca de gente caminhou pelas ruas das cidades violentas.
Muito caminhou Lucia, e ao longo de seu caminho ia sempre acompanhada pelos ecos daquelas vozes distantes que ela tinha escutado, com seus olhos, na infância.
Lucia não tornou a ler aquele livro. Não o reconheceria mais. O livro cresceu tanto dentro dela que agora é outro, agora é dela.
FONTE: Eduardo Galeano – 2002 – Mulheres – Crônica – Tradução de Eric Nepomuceno, Coleção L&PM Pocket, vol. 20, página 176.
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quarta-feira, 27 de outubro de 2010
Sob risco de colapso [Texto de Karina Ninni – de O Estadão]
No mundo, 70% das espécies comerciais estão com estoques baixos; no Brasil, índice chega a 80% no Sudeste.
A redução drástica da população de algumas espécies de peixes e crustáceos e o desaparecimento de outras foram tema de debate na Conferência da Biodiversidade, em Nagoya, Japão, que acaba na sexta-feira. Especialistas repisaram o alerta: por milênios o ser humano encarou o mar como fonte inesgotável de alimento, mas isso não vale mais, não no planeta de 6,6 bilhões de habitantes. O grande vilão do fenômeno é a pesca desordenada, que no Brasil já ameaça mais de 80% dos estoques do Sul e Sudeste e 50% no Norte e Nordeste.
O relatório Global Ocean Protection, recém-lançado em Nagoya, é claro: "Alguns estoques estão próximos do colapso e não deveriam mais ser pescados. E todos deveriam ser alvo de planos de uso sustentável de longo prazo", afirma Caitlyn Toropova, uma das autoras do estudo.
Relatório divulgado este mês pela ONG World Wildlife Foundation indica que 70% das espécies comerciais do mundo, como o bacalhau do Atlântico Norte e o atum do Mediterrâneo, estão com estoques baixos.
No Brasil, o Censo da Vida Marinha divulgado este mês pelo Ministério do Meio Ambiente (MMA) indica que, das 1.209 espécies de peixes catalogadas na costa e nos estuários, 32 são sobre-exploradas. O caso dos crustáceos é ainda pior: a sobrepesca afeta 10 de 27 espécies.
A situação é agravada pela falta de políticas de ordenamento da atividade pesqueira. O Ministério da Pesca e Aquicultura (MPA) calcula em 350 mil o número de pescadores profissionais do País, que respondem por 70% da captura de espécies marinhas na costa. De acordo com o MPA, existem 60 mil embarcações artesanais e cerca de 10 mil industriais nos 3,5 milhões de quilômetros de quadrados de mar sob jurisdição brasileira.
Pelos números oficiais, foram tiradas dos mares brasileiros 585.671,5 toneladas de pescado em 2009. Mas o sistema de licenciamento, a permissão para a pesca de uma determinada espécie, foi criado nos anos 70 e 80, quando os estoques eram outros.
"É comum, na ausência de um recurso para o qual tem permissão de pesca, que o pescador se volte para outro. A verdade é que não se sabe quem está pescando o quê e com qual licença", diz o professor Jose Angel Alvarez Perez, integrante do Grupo de Estudos Pesqueiros da Universidade do Vale do Itajaí (Univali), em Santa Catarina.
Segundo Perez, existem espécies em que há sobrepesca há décadas, para as quais não se deveria mais conceder licenças de captura, como a corvina. "E há outras, como os linguados, para as quais não há nenhuma instrução normativa para a captura."
"Na Europa, diferentes países dividem os recursos e isso favoreceu a normatização e a geração de informações. Os primeiros relatos de sobrepesca na Europa datam do século 19", afirma Antonio Olinto Ávila da Silva, pesquisador do Instituto de Pesca (IP) de São Paulo.
No entender de Perez, da Univali, o problema não é tanto de falta de informação, mas de adoção de políticas efetivas. "Em 2004 o MMA lançou uma lista das espécies ameaçadas de extinção e pela sobrepesca. A ideia era que, a partir da lista, o sistema de licenciamento para embarcações pesqueiras fosse revisto."
A presidente da Associação Litorânea Extrativista do Estado de São Paulo Isaura Martins dos Santos, de 54 anos, confirma a informação sobre o déficit de monitoramento. "A gente pesca tudo quanto é tipo de peixe, carapeva, parati, peixe-espada, corvina. Não fazemos uma pescaria específica, isso só de camarão, mas o que acontece é que a escassez é para tudo. O que diminuiu foi a quantidade, não o tamanho", argumenta Isaura, que, além de pescar há 24 anos, é casada com um pescador.
Um dos problemas apontados por especialistas é a falta de entrosamento entre as instituições responsáveis pelo licenciamento e pela fiscalização da pesca. "Imaginávamos que a criação do Ministério da Pesca fosse melhorar o problema da governança, mas isso não aconteceu, porque o MPA e o MMA não trabalham integrados. O MPA existe para fomentar a produtividade e tem mais força política do que o MMA", diz Leandra Gonçalves, coordenadora da campanha de oceanos do Greenpeace.
Passivo. "A nova Lei de Pesca foi sancionada no ano passado, mas há três anos estamos criando um novo sistema de permissões. Só que o passivo é muito grande", diz Cleberson Carneiro Zavaski, secretário-executivo do MPA. "No passado foi incentivado um crescimento desordenado que potencializou a sobrepesca de algumas espécies."
Para Ávila, do IP, é preciso diferenciar sobrepesca de colapso. Segundo ele, se bem administrada a sobrepesca é uma ferramenta importante para o manejo dos estoques. "Quando você pesca mais do que deveria, significa que o estoque que ficou na água vai ter mais condições de se reproduzir: mais espaço, mais alimento etc. Só quando há sobrepesca por anos seguidos é que os estoques começam a cair."
"A pesca tem uma importância muito mais social do que econômica e as políticas públicas deveriam levar isso em conta. No Estado que mais pesca no País, Santa Catarina, a participação da pesca no PIB é risível", diz Ávila. "O processo de gestão pesqueira tem de ser participativo. Não adianta criar uma boa lei se não houver um trabalho intenso com uma população pouco alfabetizada, para a qual a pesca artesanal é a principal fonte de renda." / COLABOROU REJANE LIMA
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terça-feira, 26 de outubro de 2010
Um Espermatozóide e um Banco?!
“Meer doen zit in onze natuur” (Fazer mais está na nossa natureza) ― Essa é a marca do Centea, um banco belga que deletou imagens formais na hora de mostrar os seus serviços. Uma propaganda divertida para uma ideia inteligente.
segunda-feira, 25 de outubro de 2010
domingo, 24 de outubro de 2010
UNIARTE – Um evento cultural em 26.ª edição
Cada ano melhor, a UNIARTE estará imergindo a Unigran (Centro Universitário da Grande Dourados) sob o tema “Educação, Arte e Cultura”, durante a semana de 25 a 29 de outubro.
Programação de amanhã
- dia 25 de outubro (segunda-feira):
18h às 19h - CREDENCIAMENTO (Salão de Eventos)
19h15min - ABERTURA OFICIAL (Salão de Eventos)
19h15min às 22h - PERFORMANCES E INTERVENÇÕES (Salão de Eventos):
• Fragmentos Shakespearianos, apresentados por Ademir de Carvalho Martins, Luiz Gustavo de Souza Cruz e Mayara Barbosa.
• Poéticas do local: Música e Voz, apresentadas por Mayara Barbosa e Alexandre Alves.
• Recortes Poéticos de Gicelma Chacarosqui, apresentados por João Rocha.
• Singularidades Poéticas, apresentadas por Ademir de Carvalho Martins.
• Teologia do Traste (dos “Poemas Rupestres” de Manoel de Barros), apresentada por Wagner Torres.
• Grupo M'Boitatá (Arte de Rua).19h30min - ABERTURA DAS EXPOSIÇÕES, MOSTRAS E FEIRAS DE ARTE
19h30min - HOMENAGENS CULTURAIS (Salão de Eventos):
• Idara Duncan (Personalidade Cultural de MS)
• Liana de Souza Pietramale (Parceria Cultural)
• Vilma Pizzini (Personalidade Cultural de Dourados)
20h - SHOW: Lenilde Ramos (Salão de Eventos)
21h - LANÇAMENTOS DE SEIS LIVROS (Salão de Eventos):
• A teia do contar na Nhecolândia: a personagem lendária Mãozão – de Áurea Rita Ávila Lima Ferreira
• Discurso indígena: aculturação e polifonia – de Rita de Cássia Pacheco Limberti
• Ensino de Artes x Estudos Culturais – de Marcos Antônio Bessa-Oliveira
• Formas espaços e tempos: reflexões linguísticas e literárias – de Vânia Maria Lescano Guerra e Edgar Cezar Nolasco (Org.)
• O meio é a mestiçagem – de Amálio Pinheiro (Org.)• O menino que engoliu o sol – de Ricardo Pieretti Câmara
21h - APRESENTAÇÃO DE PAINÉIS (Salão de Eventos)
______________
INFORMAÇÕES: (67) 3411-4171 e 3411-4138
Para saber mais sobre a UNIARTE e acessar a programação completa, clique:
http://www.unigran.br/eventos/uniarte/index.html
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CineArt – UFMS apresenta: O SÉTIMO SELO
O SÉTIMO SELO, filme sueco de 1956, escrito e dirigido por Ingmar Bergman, recebeu propositadamente esse título, que remete ao livro bíblico do Apocalipse, porque Bergman situou no mundo medieval as questões essenciais sobre o medo do final dos tempos, o medo apocalíptico.
O filme tem por tema a morte: um cavaleiro que volta da Cruzada da Fé para encontrar a peste em sua terra. Quando ele se depara com a morte personificada, aceita-a como um visitante esperado, mas propõe-lhe uma negociação ― numa disputa de xadrez ― para ganhar tempo e indagar sobre o sentido do viver e do morrer, em uma busca de entendimento através da racionalidade. Essa pausa no rumo da morte serve para questionar o propósito da aflição e o caminho para fugir desse destino.
Em O SÉTIMO SELO o sagrado é mudo; Deus e o Diabo apenas existem na voz dos charlatães. Há o cavaleiro e seu escudeiro ― que remetem a Dom Quixote ― como contrapontos da forma de encarar a existência. O escudeiro, cujo pragmatismo revela um conhecimento do mundo distante dos questionamentos e indagações do cavaleiro, transita entre o mundo da taverna e o do filósofo. Os artistas de uma família são os únicos personagens que sobrevivem à Morte — a performance vital do malabarista ingênuo e das demais pessoas que vivem pela arte.
CineArt - UFMS apresenta “O SÉTIMO SELO”, de Bergman
Data: Amanhã, dia 25 de outubro – segunda-feira
Horário: às 13h
Local: Sala do Mestrado em Física, na Unidade V
Endereço: UFMS – Universidade Federal de Mato Grosso do Sul – Campo Grande
ENTRADA FRANCA
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Guy Veloso e seus “Penitentes” na 29.ª BIENAL
Foto de Guy Veloso, da série “Penitentes” – Bienal de São Paulo
O fotógrafo paraense Guy Veloso está entre os participantes da 29.ª edição da Bienal de São Paulo, com a mostra de um trabalho documental que tem sido por ele pesquisado e fotografado, ininterruptamente, desde 2002: “Penitentes” ― “Confrarias laicas que saem rezando noite adentro em determinadas épocas do ano pelas almas que acreditam estarem ‘presas’ no Purgatório, sempre cobertos com lençóis ou mantos a fim de preservar suas identidades e, em alguns casos, flagelando seus corpos com chicotes”.
De acordo com o catálogo da Bienal, “a fotografia de Guy Veloso nasce de sua discrição em infiltrar-se e cultivar intimidades. Usa equipamento simples, sem recursos de aproximação ou otimização daquilo que seu olho nu pode capturar; reserva às possibilidades do corpo, seus convívios, apegos, erros e divagações, a maior condicionante daquilo que almeja fixar sob a forma de imagem. Em retribuição, o artista conquista naturalidade e espontaneidade dos fotografados, e cria um mapa de cenas que alternam crueza documental, ambiguidade e fantasia [...]. As imagens combinam momentos de sacrifício e dor dos fiéis com momentos lúdicos e de louvação. Assim como na prática do fotógrafo, elas devassam e desmistificam este ideário ocultado e devolvem ao público da Bienal a reflexão e a responsabilidade sobre qualquer espécie de estigma”.
Conheça mais sobre o fotógrafo paraense e veja mais fotos da mostra e de outros projetos, clicando em:
29.ª Bienal de São Paulo
Parque do Ibirapuera – Portão 3
Pavilhão Ciccillo Matarazzo
Horários de funcionamento – até 12 de dezembro:
De 2.ª a 4.ª-feira das 9 às 19h - 5.ª e 6.ª-feira das 9 às 22h
Sábado e domingo das 9 às 19h
Admissão permitida até uma hora antes do fechamento
ENTRADA GRATUITA
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sábado, 23 de outubro de 2010
O livro, por Borges e Vargas Llosa
Hoje me peguei falando e pensando em LIVROS. Como resisto fortemente a acreditar em mera coincidência, decidi organizar algumas ideias, dando vazão a essa antiga e sempre renovada paixão que hoje, mais e mais, tem se revelado um “caso de amor”: livros. Não tenho dúvidas: sou o que li! Desde a minha infância os livros me levaram a um universo inigualável em que a força gravitacional é gerida pelo pensamento. Se hoje tenho determinada opinião sobre isso ou aquilo, amanhã, após novas experiências, incluindo leituras, posso me questionar e até mudar de visão. Não há liberdade maior. O pensamento não tem grilhões, a não ser aqueles criados pela própria fantasia ou história de vida. O assunto é apaixonante e interminável, tal qual a nossa capacidade de conectar um pensamento a outro. E os livros... o que são, senão pensamentos impressos?
Com papéis substituídos pela tela de um monitor, os livros estão mais acessíveis do que nunca, em bibliotecas que permitem consultas online. Com um acervo digital impressionante, recentemente ampliado, a Biblioteca Brasiliana da USP recitou Borges, escritor argentino, na página de abertura do seu site, há quase dois anos. O poema não se encontra mais lá. Felizmente o guardei, para ser (re)encontrado hoje:
Dentre os instrumentos inventados pelo homem,
o mais impressionante é, sem dúvida, o livro.
Os demais são extensões de seu corpo.
O microscópio e o telescópio são extensões da visão;
o telefone uma extensão da voz e finalmente temos
o arado e a espada, ambos extensões do braço.
O livro, porém, é outra coisa.
O livro é uma extensão da memória e da imaginação.
Jorge Luis Borges, 1978.
Jorge Luis Borges, 1978.
Na época, com o lançamento da primeira biblioteca digital brasileira, pensei: Temos agora uma fantástica extensão da memória e da imaginação saltando da tela, fazendo a fusão do livro real com o universo virtual. Será o “livro digital” também uma extensão da luz? E que luz será essa? Ideias, pensamentos que iluminam a mente? O que Borges escreveria hoje sobre esse novo formato de livro?
O escritor peruano Mario Vargas Llosa — Prêmio Nobel de Literatura 2010 — falou sobre o livro digital em sua recente viagem ao Brasil:
“É uma realidade que não pode ser detida. Meu temor é que o livro eletrônico provoque uma certa banalização da literatura, como ocorreu com a televisão, que é uma maravilhosa criação tecnológica, que, com o objetivo de chegar ao maior número de pessoas, banalizou seus conteúdos.” Foi o que argumentou o escritor em uma palestra a professores e estudantes no Rio Grande do Sul, registrada pela Folha S.Paulo. Em sequência, Vargas Llosa admitiu que os formatos eletrônicos começam a suplantar o tradicional livro em papel, o qual, se não desaparecer, tenderá a ficar relegado a segundo plano.
“A preservação da qualidade cultivada no formato de papel está relacionada com o que diferencia a cultura da ciência. A ciência progride rompendo com o velho e obsoleto, enquanto as letras e as artes não se desenvolvem, só se renovam.”
O escritor também ressaltou que “na literatura, Cervantes é tão atual como Borges. A obra artística não morre com o tempo. Segue vivendo e enriquecendo as novas gerações”.
E fez uma advertência: “Temos de impor ao livro eletrônico a riqueza de conteúdo que teve o livro de papel. A pergunta é se realmente queremos isso”.
Com a palavra, o leitor!
[IMAGEM: Foto do escritor Jorge Luis Borges]
quinta-feira, 21 de outubro de 2010
Nelson Rodrigues está hoje na Mostra de Teatro da UFGD
Cena de A Serpente, de Nelson Rodrigues (Foto de Jefferson Ravedutti).
A Serpente é o texto mais curto do dramaturgo Nelson Rodrigues, com apenas um ato de duração. Apesar de breve, a peça tem um ritmo intenso e a força característica da sua obra teatral, com um drama familiar sobre a paixão de duas irmãs pelo mesmo homem.
No elenco estão os atores Luciana Kreutzer, Aline Duenha, Emmanuel Mayer, Bruno Moser e Natali Allas. O diretor, Nill Amaral, destaca que “buscamos focar a encenação no trabalho do ator, para ressaltar a poética de Nelson através da dimensão dos personagens”. E o impacto rodrigueano fica evidente nas dimensões míticas e psicológicas de uma história que mescla cenas de amor, inveja e ódio.
Com cenário de Maira Espíndola e iluminação de Gil de Medeiros, A Serpente, sob o olhar afiado de Nill Amaral, espera por você, hoje, no Teatro Municipal de Dourados, às 20h.
quarta-feira, 20 de outubro de 2010
Música e Memória: O cérebro armazena a vida com trilha sonora
Pacientes com Mal de Alzheimer talvez possam retardar o desenvolvimento da doença por meio de musicoterapia. O pesquisador Petr Janata, da Universidade da Califórnia, monitorou a atividade cerebral de um grupo de voluntários enquanto estes ouviam música e concluiu que a região do cérebro associada à música também está associada às memórias mais intensas de uma pessoa. Seu estudo foi publicado na revista científica Cerebral Cortex.
Segundo Janata, a revelação pode ajudar a explicar por que a música pode despertar reações fortes em pessoas com Alzheimer. A região ativada durante o experimento, o córtex pré-frontal (logo atrás da testa), é uma das últimas áreas do cérebro a se atrofiar à medida que a doença progride.
“O que parece acontecer é que uma música conhecida serve de trilha sonora para um filme mental que começa a tocar em nossa cabeça”, diz o especialista. “Ela traz de volta as lembranças de uma pessoa ou um lugar, e você pode de repente ver o rosto daquela pessoa na sua mente. Agora podemos ver a associação entre essas duas coisas – música e memória.”
E eu, leiga no assunto, sempre achei que o som tinha o dom de pulverizar maus eflúvios. Ouvir música, cantar, dançar... Três tipos de software especializado que, quando acionados na máquina cerebral, ativam o prazer e dão vontade de viver. Quero passar a vida fazendo upgrade!
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Como é que se escreve?
Um vídeo rápido. Somente para recordar uma antiga proposta publicitária das Editoras Online. Antiga, mas atualíssima.
Não tenho nada a acrescentar e tampouco a deletar: Ler mais ajuda! E, mesmo assim, um dicionário não se dispensa.
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terça-feira, 19 de outubro de 2010
Vargas Llosa, sobre literatura e ditaduras
IMAGEM: Llosa em foto de Daniel Marrenco (Folhapress).
O escritor peruano Mario Vargas Llosa recebeu, no último dia 7 de outubro, o Prêmio Nobel de Literatura por sua “cartografia das estruturas de poder e suas imagens vigorosas sobre a resistência, revolta e derrota individual”, conforme justificou a Real Academia Sueca.
Em recente viagem ao Brasil, na semana passada, Llosa concedeu uma entrevista à Folha S.Paulo, no auditório do jornal, onde falou sobre sua obra, escritores brasileiros, América Latina, ditadores, literatura e o seu recente prêmio.
Sobre literatura e ditaduras, Vargas Llosa comentou:
Um bom de leitor de literatura é uma pessoa inquieta frente ao mundo e à realidade. E isso sempre foi muito bem entendido pelas ditaduras, todas ― de esquerda, de direita, militares, religiosas, ideológicas. Porque não há ditadura que não queira controlar essa atividade que é a criação de mundos fictícios. Estabelecem censuras, estabelecem censores, têm uma desconfiança natural pela literatura, porque intuem que nela há algo perigoso. E creio que têm razão, que há algo perigoso na quimera que é a literatura.
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Mostra de Teatro da UFGD, em Dourados
A Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD) realiza sua Mostra de Teatro 2010, no período de 20 a 23 de outubro, como parte das comemorações dos cinco anos de sua criação.
Sobre o espetáculo de abertura, “Doido”, concebido e interpretado por Elias Andreato (foto), a jornalista Nanda Rovere nos revela que seu criador fez “uma interessante miscelânea de diversos artistas que escreveram com maestria sobre a essência humana e sobre a arte. Apresenta textos de autores que falaram de uma maneira tocante sobre o amor, a vida e o teatro, como Shakespeare, Vinícius de Moraes, Oscar Wilde, Dante e Fernando Pessoa.”
“Um foco de luz dirige o olhar do espectador para o ator e durante 60 minutos não é possível desgrudar a atenção do palco. Elias Andreato tem uma energia tocante e domina o palco, seja em espetáculos solos (Doido é o seu sétimo monólogo) ou contracenando com outros colegas de profissão. Dirigindo-se à platéia, o ator expõe sentimentos comuns a todos nós com uma força avassaladora. Ele se entrega de corpo e alma a esse trabalho, que reflete as suas alegrias e indagações sobre a profissão de ator.”
E Nanda Rovere conclui: “Assistir a esse espetáculo é passeio obrigatório para quem aprecia as artes cênicas. É diversão, aliada a excelente oportunidade para uma reflexão sobre o ser humano e a arte.”
A propósito, o monólogo “Doido” rendeu a Elias Andreato o prêmio APCA (Associação Paulista de Críticos de Arte) de Melhor Ator de 2009.
Confira a programação da mostra, com espetáculos sempre às 20h, no Teatro Municipal de Dourados:
Dia 20 – quarta-feira – DOIDO, de Elias Andreato.
Dia 21 – quinta-feira – A SERPENTE, de Nelson Rodrigues, com o grupo OFIT e direção de Nil Amaral.
Dia 22 – sexta-feira – A CABELEIREIRA, do grupo Hendÿ.
Dia 23 – sábado – A LIÇÃO, de Ionesco, com direção de José Parente.
INGRESSO: Um quilo de alimento não-perecível.
A programação ainda prevê uma oficina de teatro, no dia 22 de outubro, com Renata dos Reis Vieira. As inscrições já estão abertas, “custam” a doação de um livro infanto-juvenil e podem ser feitas das 7h às 11h e das 13h às 17h na Coordenadoria de Cultura, localizada na Unidade 1 da UFGD, na rua João Rosa Góes, 1761, Vila Progresso.
INFORMAÇÕES: Coordenadoria de Cultura da UFGD.
TELEFONE: (67) 3411-3612
segunda-feira, 18 de outubro de 2010
"Rebobine, Por Favor ― A Exposição", no MARCO, em Campo Grande
Campo Grande é a terceira cidade a receber Rebobine, Por Favor – A Exposição, depois de Nova York, Rio e São Paulo. Suas instalações estarão abertas de 26 de outubro a 14 de novembro no Museu de Arte Contemporânea (MARCO).
Com criação do cineasta francês Michel Gondry, a exposição utiliza a idéia central do divertido filme homônimo por ele dirigido. No filme ― Rebobine, Por Favor ―, o personagem principal (Jack Black), após desmagnetizar acidentalmente as fitas da videolocadora em que trabalha, decide substituir o conteúdo irremediavelmente perdido, utilizando para isso suas próprias produções. E começa a filmar, fazendo regravações de “O Rei Leão”, “Robocop”, “Caça Fantasmas”, “Conduzindo Miss Daisy” e muitos outros títulos famosos, com cenários e figurinos que são, literalmente, de fundo de quintal.
Como todo visitante, você poderá percorrer os cenários que compõem esta singular exposição, mas se você convive com um cineasta adormecido em sua imaginação, chegou sua grande chance de realizar um filme, num processo criativo totalmente original, utilizando os cenários criados pelo diretor Michel Gondry.
Para participar como “cineasta”, inscreva-se com antecedência (as vagas são limitadas). Acesse o site, telefone para o MARCO e tire suas dúvidas. Será necessário participar de workshops em dois horários durante a semana e um horário nos finais de semana, onde o grupo, de até 15 pessoas, fará o planejamento básico da filmagem. Após participar do workshop, o grupo terá à disposição uma câmera, fornecida pelos produtores da mostra, além de equipamento de luz.
A exposição é gratuita e os vídeos realizados estarão disponíveis para serem vistos na “Locadora” ― um dos cenários expostos, que reconstitui a videolocadora do filme homônimo dirigido por Gondry, já lançado no Brasil (veja o trailer postado abaixo).
Proporcionar ao público uma oportunidade única de “interagir cinema”, numa linguagem moderna, democrática e original, é o intuito desta exposição. “Trata-se de um conteúdo simples e ao mesmo tempo extremamente criativo, uma junção rara nos dias atuais. Não tenho dúvidas de que as pessoas que visitarem a exposição se surpreenderão tanto quanto eu me surpreendi quando tive o primeiro contato com ela, em Nova York”, afirma Lia Vissotto, diretora da Cinnamon Comunicação, que em 2008 montou a exposição em São Paulo (no Museu da Imagem e do Som) e em 2009 no Rio de Janeiro (no Centro Cultural Banco do Brasil).
Rebobine, Por Favor – A Exposição
ENDEREÇO: Rua Antônio Maria Coelho, 6000 - Parque das Nações Indígenas, Campo Grande, MS.
DATA: de 26 de outubro a 14 de novembro
HORÁRIOS PARA VISITAÇÃO: de terça a sexta-feira das 12h às 18h. Sábado, domingo e feriado das 14h às 18h.
TELEFONE PARA INFORMAÇÕES: (67) 3326-7449ENTRADA GRATUITA
WORKSHOPS: de terça a domingo, em horários especiais (grupos de até 15 pessoas – sete inscrições prévias pelo site da exposição e oito no MARCO, através dos monitores).
SITE DA EXPOSIÇÃO: http://www.rebobineporfavorexposicao.com.br/site.html
SOBRE O DIRETOR: para conhecer (ou relembrar) a filmografia de Gondry, acesse o site da exposição.
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Marcelo Buainain e sua foto "bressoniana"
Uma das fotos de Marcelo Buainain que fez parte da mostra "Bressonianas — A influência de Henri Cartier-Bresson no Brasil".
A mostra, realizada sob curadoria de Eder Chiodetto, apresentou 42 imagens de sete renomados fotógrafos brasileiros que declaradamente revelaram esta belíssima influência nas suas obras. São eles: Carlos Moreira, Cristiano Mascaro, Flávio Damm, Juan Esteves, Marcelo Buainain, Orlando Azevedo e Tuca Vieira. A propósito: Marcelo Buainain é sul-mato-grossense, de Campo Grande.
O texto abaixo foi clipado de um comentário do fotógrafo, incluído no álbum BAHIA – SAGA E MISTICISMO, na sua página do site Facebook:
E ASSIM TUDO COMEÇOU...
No início da década de 90 travei um íntimo contato com a obra do fotógrafo Cartier Bresson. O cenário foi em Londres, no interior do Victoria and Albert Museum, onde tive o privilégio de manusear e reproduzir quase trezentos originais do mestre francês. Anos mais tarde, atendendo ao convite do curador Eder Chiodetto, debrucei-me sobre o meu arquivo em busca de algumas imagens que tivessem uma conotação bressoniana. Essa experiência me revelou algo que desconhecia até então, a importância e a dimensão da influência da obra do Bresson sobre o meu olhar.
Marcelo Buainain
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Marcelo Buainain
"Playing for change - stand by me" – Mudando com Música
A ideia surgiu cinco anos atrás em Santa Monica, Califórnia. Um técnico de som, Mark Johnson, gravando os arranjos de músicos que se apresentavam em ruas, becos e avenidas, “percebeu que era possível unir o mundo através da música, divulgando coisas positivas e pacíficas, para mudá-lo para um mundo melhor.” Desde então, Mark trabalha com seu projeto PLAYING FOR CHANGE (literalmente “Tocando para mudar”), que se transformou em um grande sucesso, com CDs e DVDs vendidos em toda parte e mais de um bilhão de acessos no YouTube, mudando por completo a vida de Mark, dos cantores e dos instrumentistas.
Neste vídeo, o primeiro da série, músicos de rua de várias regiões do mundo ― EUA, Holanda, Congo, Venezuela, África do Sul, França, Brasil, Rússia, Espanha e Itália ―, graças a uma cuidadosa mixagem de som, tocam juntos a deliciosa e oportuna canção “Stand by me” (“Fique a meu lado”).
Assista ao vídeo, tenha uma excelente semana, e... fique comigo!
domingo, 17 de outubro de 2010
Quando a escala é a biodiversidade...
Uma libélula, em imagem intitulada “Elegância”. (Foto: Tiberio Taverni, Itália.)
Edward Osborne Wilson é um biólogo americano reconhecido mundialmente como uma das maiores autoridades em formigas, além de ser um dos mais bem conceituados cientistas da atualidade.
Membro do quadro da Universidade Harvard desde o início dos anos 50, ele se destacou nas quatro décadas seguintes como professor de zoologia, curador de entomologia (estudo dos insetos) no Museu de Zoologia Comparativa e pesquisador. Suas realizações incluem a criação (com Robert H. MacArthur) da teoria da biogeografia de ilhas, uma área essencial da ecologia e biologia de conservação modernas. Além disso, suas pesquisas o levaram a um novo enfoque científico sobre os princípios biológicos do comportamento e organização sociais humanos: a “sociobiologia”, que provocou uma revolução acadêmica e causou muitas controvérsias nos anos 70. Dois de seus 21 livros receberam prêmios Pulitzer: Da natureza humana (1978) e As formigas (1990, em coautoria com Bert Hölldobler).
Wilson também foi editor do livro Biodiversidade, que em 1988 introduziu esse termo e trouxe atenção mundial para o tema. Sua obra A diversidade da vida (1992), que reuniu conhecimentos sobre a magnitude da biodiversidade e também sobre as ameaças que incidem sobre ela, teve importante impacto junto ao público. Outro de seus livros, O futuro da vida (2002), propõe um plano para salvar a herança biológica da Terra.
Hoje, ele dá continuidade a suas pesquisas entomológicas e ambientais no Museu de Zoologia, em Harvard, onde um dia escreveu:
“Se toda a humanidade desaparecesse, o mundo voltaria ao rico estado de equilíbrio que existia há dez mil anos. Se os insetos desaparecessem, o ambiente iria do colapso ao caos.”
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Jimmy Hoffman, fotógrafo
Ele reside na Espanha, na Costa Brava, e especializou-se em retratar a vida selvagem, registrando caçadas e ataques violentos dos seus bichos prediletos: louva-a-deus! Desses simpáticos insetos, Hoffman já publicou imagens que parecem saídas de roteiros de ficção científica.
Três jovens louva-a-deus caminham sobre o caule de uma roseira. (Foto: J. Hoffman).
FONTE: BBC – Brasil.
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sábado, 16 de outubro de 2010
Viver não é preciso...
Em “Navegar é Preciso”, Fernando Pessoa (foto) registrou:
Navegadores antigos tinham uma frase gloriosa:
“Navegar é preciso; viver não é preciso”.
Quero para mim o espírito [d]esta frase,
transformada a forma para a casar como eu sou:
Viver não é necessário; o que é necessário é criar.
Não conto gozar a minha vida; nem em gozá-la penso.
Só quero torná-la grande,
ainda que para isso tenha de ser o meu corpo (e a minha alma) a lenha desse fogo.
Só quero torná-la de toda a humanidade;
ainda que para isso tenha de a perder como minha.
Cada vez mais assim penso.
Cada vez mais ponho da essência anímica do meu sangue
o propósito impessoal de engrandecer a pátria e contribuir
para a evolução da humanidade.
É a forma que em mim tomou o misticismo da nossa Raça.
Afora a beleza do poema, nunca entendi de que modo uma frase como essa ― Navegar é preciso; viver não é preciso ― poderia ter se originado de navegadores, com a palavra “preciso” tendo o significado de “necessário”. Seriam eles tão alucinados por navegar, “viver no mar”, que a própria vida não teria mais sentido, nem necessidade, sem uma embarcação sob os pés? Logo no mar, onde as lições de sobrevivência se acumulam a cada momento? Justo os navegadores, que são atores e espectadores da força da vida e da beleza do mar à mercê de elementos que se renovam a cada dia? Sempre acreditei que Fernando Pessoa transformara o significado de “preciso”, “exato”, em “necessário” por simples conveniência poética. Afinal, navegar sempre exigiu habilidades especiais, técnica, principalmente entre os navegadores da antiguidade, cuja tecnologia parece tosca aos olhos atuais. Para navegar era imprescindível o mais absoluto rigor, fosse para observar e seguir estrelas e constelações ou para manipular sextantes e astrolábios. Enfim, navegar era um exercício de precisão, sem a qual não haveria navegação, mas sim naufrágio! NAVEGAR É PRECISO! Já viver... Ah! Para viver não havia e ainda não há regras, tampouco rigor ou técnicas. A vida nos surpreende. VIVER NÃO É PRECISO!
E curiosamente, por mero acaso (em um daqueles banais eventos da imprecisão da vida), descobri em um site de domínio público a possível origem da frase apontada por Fernando Pessoa como sendo dos navegadores:
“Navigare necesse; vivere non est necesse” ― do latim, frase que Pompeu, general romano (106-48 a.C.), ditou aos marinheiros amedrontados que se recusavam a viajar para a guerra.
Enfim, seja ou não seja esta a real autoria da sentença, resta a curiosidade de conhecer o singular incentivo do poderoso general romano, “senhor” das vidas que comandava. Quantos séculos se passaram... E muitos poderosos ainda decidem (ou tentam decidir) qual será o destino e a “necessidade” das vidas alheias.
Sem guerras abertamente declaradas, o desafio da atualidade é viver sem fazer concessões aos caprichos de quem exerce o poder. Viver simplesmente. Pensar, decidir, sem manuais que imponham rotas de navegação e destinos predeterminados.
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sexta-feira, 15 de outubro de 2010
Pássaros e fios elétricos: música suspensa no ar
Tudo começou com esta foto aí ao lado, clicada por Paulo Pinto e publicada no Estadão no ano passado. Jarbas Agnelli, músico e publicitário, ficou intrigado ao observá-la e intuiu que havia uma partitura na imagem, onde cada pássaro poderia ser uma nota musical:
“... resolvi tentar ‘tocá-la’, já que a imagem continha 5 fios, exatamente o números de linhas num pentagrama. Ao piano descobri que a melodia era doce e suave, quase infantil. Produzi então, após decidir por uma métrica e um tom, uma música com roupagem erudita, usando samples de um quarteto de cordas, flauta, clarinete, oboé e fagote, além de vibrafone e glockenspiel. Confesso que o resultado final dessa minha parceria com os pássaros me emocionou, e me levou a procurar o fotógrafo da foto na internet. Descobri facilmente Paulo Pinto (o fotógrafo também tinha nome de pássaro!), um renomado fotógrafo jornalístico, e lhe enviei a música, pedindo permissão para usar a foto. Ele prontamente me respondeu de volta, entusiasmado com o resultado, e, mais ainda, com o fato de eu ter visto o mesmo que ele viu no momento do clique. De posse da foto em alta resolução criei um vídeo simples, na tentativa de ilustrar minha linha de raciocínio. Uma foto, que virou uma música, que virou um vídeo.”
Jarbas Agnelli — Músico, publicitário e diretor da agência AD Studio.
Leia todos os detalhes dessa história e seus desdobramentos clicando no link do artigo “A música influencia o filme que influencia a música”, publicado na Revista Ponto Com.
Aproveite e aprecie a doce melodia que os pássaros nos enviaram, registrada por Paulo Pinto e decodificada por Jarbas Agnelli:
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quinta-feira, 14 de outubro de 2010
Navegar é preciso...
Hokule’a ― Um barco que é uma tradição restaurada. (Foto: Monte Costa.)
Na primavera de 1976, Mau Piailug se ofereceu para navegar em um barco a vela do Havaí ao Taiti. A expedição, que cobriria 4000 km, era organizada pela Polynesian Voyaging Society — entidade havaiana que estuda técnicas tradicionais de navegação — para verificar se os marinheiros antigos poderiam ter vencido esse trajeto em mar aberto. A embarcação era bela, uma canoa de casco duplo chamada Hokule'a, ou “Estrela de Júbilo” (a estrela Arcturus, para a ciência ocidental). Mas não havia ninguém para comandá-la. Naquela época, Piailug era o único homem que conhecia a antiga arte polinésia de velejar orientando-se pelas estrelas, pela sensação do vento e pela aparência do mar. Então ele se apresentou.
Sendo um habitante da Micronésia, ele não conhecia as águas e os ventos do Taiti, situado remotamente a sudeste, mas tinha uma imagem do arquipélago na cabeça. Ele sabia que se mirasse essa imagem não se perderia. E ele nunca se perdeu. Após percorrer mais de 3000 km, a Hokule'a foi sobrevoada por um bando de pequenas andorinhas-do-mar brancas que rumavam ao ainda invisível Atol de Mataiva, próximo ao Taiti. Piailug sabia que a empreitada estava quase concluída.
Nessa viagem de um mês ele não levava bússola, sextante ou cartas náuticas. Ele não era contra o uso de instrumentos modernos, em princípio. Uma bússola poderia ocasionalmente ter utilidade durante o dia; e ele, ao menos quando já estava em idade avançada, chegou a usar um relógio. Piailug, no entanto, não trabalhava com latitudes, longitudes, ângulos ou cálculos matemáticos de qualquer tipo. Ele caminhava, e navegava, sob uma teia de estrelas em forma de abóbada, que lentamente se movia de leste para oeste, desde a ascensão de cada uma no horizonte até o ponto oposto, em que mergulhava no mar, e conhecia esses pontos tão bem — mais de 100 pelo nome, incluindo as estrelas a eles associadas, com sua cor, luz e hábito — que parecia guardar um cosmos inteiro na cabeça, mantendo-se determinado, atarracado e modesto, no controle desse movimento celestial.
Ao início de cada viagem oceânica, levando água em cabaças e também tubérculos amassados envoltos em folhas, ele apontava a canoa considerando a direção correta do vento e, em seguida, alinhava-a segundo um trajeto que ia de uma estrela ascendente a outra oposta, que se punha no horizonte. Com a estrela de partida às suas costas e a de destino à sua frente, ele mantinha o curso. Durante o dia, guiava-se pelo nascer e pôr do Sol, mas também pela própria água oceânica, a mãe da vida. Conseguia ler a que distância estava de costa, e a direção desta, pela sensação das ondas contra o casco. Podia detectar águas rasas pela cor e ver a luz de lagunas invisíveis refletida na barriga das nuvens. Peixes de sabor mais doce significavam rios ao largo; grupos de aves retornando à noite mostravam-lhe onde a ficava a terra firme.
Começou a aprender tudo isso ainda criança, quando seu avô, também navegador-mestre, sustentava-lhe o corpo em piscinas de maré para ensinar-lhe como as ondas e o vento batiam de modo distinto de um lugar para outro. Mais tarde veio a memorização intensiva da bússola de estrelas, na forma de um círculo de seixos de coral, cada um deles um astro, dispostos na areia circundando um barco de folhas de palmeira. Isso não era diletantismo, mas estudo imprescindível: no minúsculo Atol de Satawal, onde passou a vida, a pesca em alto-mar era necessária à sobrevivência.
Ainda assim, as maneiras antigas iam mudando velozmente. Depois que Piailug, aos 18 anos, foi consagrado palu, ou navegador iniciado, sendo ornado com guirlandas e aspergido com cúrcuma amarela para mostrar o conhecimento que adquirira, nenhum outro ilhéu do Pacífico recebeu tal consagração por 39 anos. Sozinho, ele partia em seu barco levando os encantamentos apropriados para os espíritos do oceano, incluindo “proteção mágica” contra o polvo do mal que vagava furtivamente nas águas entre Pafang e Chuuk. Levava também a sabedoria para nunca se perder — o que ocorreu apenas uma vez, quando naufragou em meio a um tufão e passou sete meses, com sua tripulação, à espera de resgate em uma ilha desabitada.
Como palu, no entanto, ele não podia permitir que suas habilidades morressem com ele. Estava empenhado com o dever de transmiti-las. Daí sua disposição em comandar a Hokule'a. Essa viagem, que provou que a migração dos povos do sul e do oeste para o Havaí não fora um acidente, mas provavelmente um ato deliberado de suprema habilidade marítima e estelar, transformou a autoimagem dos havaianos; e mudou a vida de Piailug. De um momento para outro, passou a ser requisitado como professor. Pacientemente, com ponteiro na mão e sentando-se sobre uma perna dobrada, ele explicava a bússola de estrelas para os novos candidatos a navegador; mas permitia que fizessem anotações. Sabia que eles nunca conseguiriam guardar tudo de cabeça, como ele o fizera.
Muito do que Piailug sabia, é claro, era secreto. O sigilo era sério: quando falava dos espíritos, seu rosto sorridente tornava-se mortalmente sóbrio, e até mesmo alarmado. Para uns poucos alunos, ele transmitia “A fala do mar” e “A fala da luz”. Ao fazer isso, quebrava a regra de que o conhecimento da Micronésia deveria permanecer naquelas ilhas. Parecia-lhe, porém, que os polinésios e micronésios eram um único povo, unido por um vasto oceano que ele, tal como tantos que o precederam, já havia cruzado por milênios em barcos diminutos.
Em 2007 o povo havaiano presenteou-o com uma canoa de casco duplo, a Alingano Maisu. A palavra Maisu significa “fruta-pão madura derrubada da árvore pela tempestade”, que qualquer um pode comer. A fruta-pão era a árvore favorita de Piailug: alta e leve, com veios sinuosos excelentes para a construção naval, látex pegajoso para calafetagem e grandes frutos ricos em amido, que, fermentados, forneciam alimento ideal para uma viagem oceânica. Maisu, porém, também designava a tranquila partilha comunitária de algo bom — semelhante ao conhecimento de como navegar por semanas pelo Pacífico afora, sem mapas, passando sob as estrelas.
FONTE DO TEXTO: Obituário de Pius Mau Piailug — que morreu no dia 12 de julho de 2010, com 78 anos — publicado em The Economist.
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