terça-feira, 28 de setembro de 2010

Chuva, rastro, passo e passarinho...

Foto de Ana Carolina Fernandes.


Tempestades torrenciais, com assustadoras rajadas de vento, têm provocado estragos lamentáveis em diferentes regiões de Mato Grosso do Sul. Obras públicas seriamente danificadas, prédios fulminados por raios, telhados detonados pelo granizo, ruas, avenidas e bairros inteiros alagados. Perdas, prejuízos. Quase simultaneamente, jornais, rádios, TV e internet nos inundam com fotos, vídeos e notícias sobre denúncias e mais denúncias de corrupção na política. Perdas, prejuízos. Todos nós e nossos bolsos foram (e quem sabe ainda estão sendo) roubados desavergonhadamente. Eu e você, que somos legalmente representados nos cofres públicos pelos nossos impostos, fomos transformados em joguetes descartáveis, peças desprezíveis ― em suma: idiotas! Idiotas pelas nossas escolhas, pela nossa boa fé e ingenuidade.

Por mais que tentasse, não consegui desvincular as tempestades das visões de propinas sendo distribuídas. Investi no bom senso, nos fatos, no meu lado racional... Mas nada me demoveu da associação de imagens. Ainda irritada com a sensação de impotência perante a tempestade e diante das cenas de impunidade de quem rouba os cofres públicos nesse país, em uma trégua dos trovões e raios acessei a internet e me deparei com essa belíssima imagem da fotógrafa Ana Carolina Fernandes. Senti imediato conforto. Com a alma aliviada, percebi que a foto me mostrava as marcas que uma ação deixa por onde passa, seja um rastro gravado, profundo, ou uma leve marca de passos miúdos, e constatei como a força das ondas tem a capacidade de eliminar qualquer vestígio dessa jornada.

Que seja! Que a justiça venha como as últimas tempestades, em ondas inexoráveis, e extermine esses políticos da história do nosso Estado (é claro que faremos a parte que nos cabe, nas urnas). E que, feliz, um dia Mato Grosso do Sul possa cantar como Mario Quintana:

Todos estes que aí estão
Atravancando o meu caminho,
Eles passarão.
Eu passarinho!

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

1.º Congresso de Natureza, Turismo e Sustentabilidade

A Fundação Neotrópica do Brasil, em parceria com a UFMS campus de Bonito e o Instituto Homem Pantaneiro, realizará de 24 a 27 de outubro de 2010 o 1.º Congresso de Natureza, Turismo e Sustentabilidade – CONATUS 2010, em Bonito, MS.

Por três dias, especialistas de renome nacional e internacional discutirão o papel do turismo como promotor da conservação ambiental, bem como o da natureza como capital de base para o turismo, entre outros temas relacionados.

Acesse o site e confira a programação completa e os preços promocionais para inscrições antecipadas ou em grupos:

domingo, 26 de setembro de 2010

Renovando a florada...

O tempo tem andado pesado, triste e tenso, não só pelas denúncias de corrupção na política local (além da estadual e nacional), mas também pela secura do clima e a fumaça das queimadas, que não cessam Mato Grosso do Sul adentro. E me bateu uma baita saudade dos dias azuis... Poucas vezes vi sol e lua tão mortiços como nos últimos dias e noites. Cinzentos, sem brilho, como que revelados em fotos em preto e branco de baixa qualidade, velados pela fumaça.

Mas nesta última madrugada, um desejo se realizou. Acordei com trovões e água batendo na janela. Como foi bom virar pro lado, puxar o lençol e começar a dormir novamente. Poucas coisas me trazem mais prazer do que cochilar ouvindo a chuva cair.

Levantei cedo, ainda chovia e tive uma vontade incontrolável de pisar descalça na grama molhada, respirar fundo o ar limpo e ficar parada, olhando a chuva caindo, correndo, na calçada, nas folhas, lavando as plantas empoeiradas e minha alma ressecada. Encharquei-me por dentro e por fora e, tal qual a ramada do quintal, deixei cair pétalas velhas e frutos encarquilhados. Permiti que a água exercesse o papel ancestral de saciar, limpar, apaziguar.

Amanhã vou novamente pular da cama bem cedinho, pronta para encher meus olhos de verde.

[Foto de minha autoria.]

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

"Ficha Limpa" — Quem sabe na semana que vem...

O Supremo Tribunal Federal empatou e não ficou decidido se haverá ou não a imediata aplicação da lei ainda para as eleições de 2010. Com cansaço evidente, após mais de 14 horas de reunião, o presidente do STF, ministro Cezar Peluzo, decidiu suspender a sessão. A discussão deverá continuar na próxima semana, já que a prerrogativa do voto de Minerva do presidente não foi utilizada. "Não tenho vocação para déspota e não acho que meu voto vale mais", disse o ministro Peluzo.

A sessão foi interessante. Enfim, pouquíssimo entendo de mecanismos de aplicabilidade das leis e, com certeza, nada sei sobre questões de constitucionalidade. Apesar de ter participado da mobilização popular e de estar na defesa da imediata aplicação da lei, compartilhando a mesma sensação de pressa e necessidade de vê-la ceifando políticos corruptos, fiquei impressionada com a fala inicial do ministro Cezar Peluzo, ao afirmar que um tribunal que atende sempre à vontade popular "é um tribunal no qual nem o povo pode confiar". Impecável. Irretocável. Recolho-me à minha profunda ignorância sobre leis e tribunais.

"A César o que é de César", com 's' ou com 'z'.

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Enquanto isso... "Ficha Limpa" ainda corre riscos


O tempo corre, o tempo voa... As eleições estão chegando e, no STF, os ministros decidem o futuro da Lei da Ficha Limpa. Espero que não haja mais nenhum "pedido de vista" e que as dúvidas semânticas sobre o tempo verbal da lei sejam esclarecidas. Haja paciência...

Enfim, que os "Fichas Sujas" sejam encaminhados a seu destino construído e merecido: lixo!

terça-feira, 21 de setembro de 2010

Abalo sísmico estadual — Depois do furacão veio um terremoto!

Em matéria assinada por Celso Bejarano e Éser Cáceres, publicada no site Midiamax News com o título de "Escândalo: Rigo revela como funcionaria corrupção entre a Assembléia, Governo do Estado e Judiciário", o olho do furacão (da operação "Uragano" da Polícia Federal) foi ao encontro de um terremoto no Parque dos Três Poderes.

Assista ao vídeo e leia a matéria na íntegra:

"Belo Monte" — Uma obra que parece mais um grande monte de...

Rio Xingu. Foto de Pedro Martinelli/ISA


No último dia 15 de setembro, em Belém (PA), uma coalizão de organizações sociais e ONGs nacionais e internacionais, denominada “Movimento Xingu Vivo para Sempre” (MXVS), lançou um vídeo que apresenta os impactos sociais, ambientais e econômicos da hidrelétrica de Belo Monte no Rio Xingu. O vídeo faz parte do projeto “Defendendo os Rios da Amazônia”, uma campanha mundial coordenada pelo MXVS em defesa desse rio e contra a construção da hidrelétrica.

Segundo os coordenadores do movimento, o vídeo “alerta a sociedade brasileira para o processo atropelado, leviano, desrespeitoso e ilegal de planejamento e licenciamento do empreendimento pelo governo federal.” Também informam que “se construída, Belo Monte será a terceira maior hidrelétrica do mundo. A barragem, que vai desviar a vazão do rio Xingu — um dos afluentes mais importantes do Amazonas — alagará uma área de 668 quilômetros quadrados, promoverá um enorme desmatamento na região (ainda não dimensionado) e o ressecamento do rio Xingu num trecho de cerca de 100 km conhecido como Volta Grande”. O movimento também ressalta que “o apodrecimento de matéria orgânica no leito da barragem também deve gerar a emissão de metano, um gás 25 vezes mais agressivo do que o dióxido de carbono no processo de aquecimento global”.

Um dos aspectos mais preocupantes do processo de criação dessa hidrelétrica fica evidente na seguinte informação dos coordenadores do movimento: “No dia 26 de agosto, o presidente Lula assinou a concessão da usina e consequentemente ignorou comprovados riscos financeiros e socioambientais, bem como apelos nacionais e internacionais para que repensasse o projeto e considerasse opções limpas de geração de energia”.

Acesse o site do movimento — http://www.xinguvivo.org.br/ —, assista o vídeo, informe-se e tire suas próprias conclusões.

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

IZULINA XAVIER: Do início ao fim, uma escultura toma forma

  





Das imagens do livro “IZULINA XAVIER – Esculturas no ar”, retirei estas seis que mostram as etapas de construção e montagem de um Cristo, com 12 m de altura. A primeira foto mostra o que Izulina chamada de “base”: uma caixa de concreto que dá suporte às camadas de cimento e pó de pedra.

Na segunda imagem, a caixa já foi revestida e mostra uma das peças que formará a obra completa. Observe que a base se repete em todas as peças que constituirão o corpo da escultura. A figura completa se compõe de cinco peças individualmente esculpidas. A quinta, a cabeça, ocupou a carroceria de um caminhão.

Esta escultura — o “Cristo Rei do Pantanal” — está edificada no Morro do Cruzeiro, também conhecido como Morro de São Felipe, em Corumbá, MS.

É notável a escala monumental do trabalho realizado por Izulina Xavier.

Para saber mais sobre a escultora:

IZULINA XAVIER: Uma mulher surpreendente que faz esculturas no ar


Mais um ônibus estaciona ao lado da calçada colorida, construída com placas de cimento moldadas e ajustadas artesanalmente, com frases, assinaturas e marcas de pés e mãos. É a “Calçada da Fama” do Ateliê Izu. Dezenas de turistas passam diariamente sob um portal esculpido com garças e tuiuiús e, disparando suas máquinas fotográficas, entram em um espaço surreal, com esculturas espalhadas e muros recobertos por desenhos em alto-relevo, como gigantescas páginas impressas que contam histórias. Histórias e mais histórias... Das nações indígenas, do Pantanal, de Corumbá, da Guerra do Paraguai.

Se os turistas derem sorte, poderão encontrá-la retocando um muro ou trabalhando em uma estátua. Uma senhora octogenária, ágil, dona daqueles olhares que acompanham até pensamento: Izulina Gomes Xavier, ou simplesmente Izu. Ela nasceu no dia 18 de abril de 1925 em Simões, uma cidadezinha do Piauí, que na época nem escola tinha, próxima às fronteiras com Pernambuco e Ceará, quase na serra do Araripe. Ainda menina foi alfabetizada pelo avô, juntamente com seus dez irmãos. Desde 1944, então recém-casada, essa bela e sensível mulher reside em Corumbá, MS, onde construiu sua família e mais, muito mais. Inclusive esculturas!

Ao entrevistá-la, encantada com a possibilidade de escrever sobre sua personalidade inigualável, recolhi esse depoimento:

"Eu vivi no campo, nadei com os peixes, cantei com os pássaros e voei com as borboletas. Já fui muito feliz. E nada me impede, com tudo o que eu passei, de eu ainda ter minha felicidade. De vez em quando eu me descubro voando, feliz da vida. Uma sensação tão boa, tão gostosa... Quando eu consigo terminar uma escultura que eu gosto, eu fico numa felicidade que você não queira nem saber."

Uma das etapas mais divertidas da entrevista (e reveladora da genialidade de Izulina) foi quando pedi para ver algum registro de seu processo criativo — um esboço, o croqui de alguma escultura. Qual foi meu espanto ouvi-la responder que não coloca nada no papel, nem um traço, um rascunho, um desenho sequer. Incrédula, pedi-lhe para me contar como criava uma escultura. E ela revelou:

"Eu fecho os olhos e assopro. Parece que eu vejo assim formar como se fosse uma poeira, uma cinza, uma coisa assim, uma nuvem... A escultura no ar. Aí eu não tenho dúvida. Eu vou e faço. Executo exatamente como ficou no meu assopro. [rindo] Minha filha, você acredita nisso? [rindo] Se você não acredita, perdão. Mas é o que acontece comigo."

E hoje tenho um pequeno livro de quarenta páginas, recém-publicado pelo Instituto Histórico e Geográfico de Mato Grosso do Sul, ao qual dei o único título que achei ser fiel a essa artista: Izulina Xavier – Esculturas no ar. Nele descrevo fragmentos da vida dessa mulher forte e destemida que descobriu a realização de sua vida madura como escultora. Conhecê-la foi um presente ímpar que a vida me deu. Espero que um dia você tenha a mesma sorte que eu.
__________

IMAGEM: Izulina Xavier e eu, no Ateliê Izu, ao lado de uma de suas esculturas, tendo ao fundo (à direita, no reflexo do vidro) uma vista parcial do portal com garças e tuiuiús.
__________

Conheça as etapas de construção de uma das obras:
__________

TÍTULO DO LIVRO: Izulina Xavier — Esculturas no ar
AUTORA: Maria Eugênia Carvalho do Amaral
EDITORA: Instituto Histórico e Geográfico de Mato Grosso do Sul
Série “Eu Sou História” — Volume XIV
NÚMERO DE PÁGINAS: 40

Instituto Histórico e Geográfico de Mato Grosso do Sul - IHGMS
Endereço: Avenida Calógeras, 3000 (uma casa em frente à área de embarque da antiga Estação Ferroviária de Campo Grande).
Telefone: (67) 3384-1654
E-mail: ihgms@ihgms.org.br

domingo, 19 de setembro de 2010

Votando novamente (ou: como não ser enganado?)

Estamos imersos, atolados até o pescoço, em uma das maiores avalanches de denúncias e promessas do cenário político nacional. Imagens e textos de candidatos experientes e habilidosos, inexperientes e inábeis, com gradações que chegam ao quilate de humoristas profissionais. Chego a pensar que, para alguns deles, ser eleito é o de menos; o que interessa mesmo é o uso gratuito (às nossas custas) do horário político para se tornarem mais conhecidos e fazerem suas piadinhas em rede nacional — o sonho de todo comunicador. E na maioria das vezes os textos são hilários mesmo. A gente ri. Mas achar engraçado é uma coisa; votar em um comediante profissional é outra. Por favor! “Uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa.”

Enfim, tudo faz parte da grande festa cívica que é o período eleitoral. Democracia. Adoro! Fico feliz com todas essas manifestações de liberdade, de exposição dos candidatos e de suas propostas. Mas, assessorados por equipes de marqueteiros, os candidatos estão cada vez mais parecidos com produtos em vitrines. No final, corremos o risco de eleger a melhor embalagem sem sabermos o que vem dentro. Uma campanha eleitoral custa caríssimo e abre brechas para que cargos e almas coloquem seus preços no mercado eleitoreiro. Não há dúvidas de que o sistema precisa de reformas (outra encrenca no jogo de valores).

Enquanto isso, eleitores desavisados, tão inábeis quanto muitos candidatos, votam em “figuras interessantes”. Em um texto recente, comentei que não acreditava que existisse “tamanha ignorância entre os eleitores que votam em ‘Artuzis’”. E afirmei também que “com a quantidade de analfabetos funcionais e a deseducação reinante, não é de estranhar que isso aconteça. A ignorância transforma o cidadão em presa fácil dos oportunistas, carreiristas e ladrões. A educação, por sua vez, abre os olhos, faz pensar... Um eleitor que não é manipulado, nem comprado por ‘gentilezas’, que sabe ler e escrever e ENTENDE o que lê, é um eleitor perigoso, perigosíssimo: ele escolhe de fato em quem vai votar”.

Mas hoje, após conversar com dezenas de eleitores que votaram em Ari Artuzi para prefeito de Dourados, tenho um pedido de desculpas a fazer: me perdoem pela grosseira generalização, por chamá-los de ignorantes e de analfabetos funcionais. Percebi claramente que todos vocês simplesmente gostaram do que viram e ouviram na campanha simples e direta do então candidato Artuzi, com seu slogan “Ajuda eu!”. Um pedido, um apelo. Um toque de mestre, um bom marketing, uma mensagem implícita — “me ajuda que eu te ajudo” —, com ares ingênuos de boas intenções de um homem do povo. Muitos sonhadores correram a “ajudar”. E, exatamente como um desses eleitores me revelou: “Como eu ia adivinhar que ele era um ladrão descarado?”.

De fato, se Artuzi fosse um larápio mais hábil, Dourados ainda estaria sendo dilapidada. Mas as coisas estão evoluindo para melhor, ainda que a conta-gotas. Veja a “limpeza” que aconteceu no Amapá, o prefeito de Dourados que continua bem longe dos cofres públicos e a LEI DA FICHA LIMPA, que chegou em boa hora (apesar de candidatos corruptos, cujos registros de candidatura foram impugnados para as eleições de outubro, estarem apelando para o Supremo Tribunal Federal – STF – questionando a constitucionalidade da lei). Ninguém falou que novas conquistas são fáceis.

A propósito, informe-se sobre a ficha limpa dos políticos candidatos acessando o site do movimento popular que originou a lei: http://www.fichalimpa.org.br/

Aqui cabe uma ressalva: ajude de fato a você mesmo fazendo alguma coisa pela política no país, a começar pela sua própria casa. Não caia na história acomodada de “tenho nojo de política”, “aí só tem ladrão”, “vou votar em branco” ou “vou anular meu voto”. Converse, pense, assine uma petição on-line para o STF na defesa da Lei da Ficha Limpa, saia da mesmice. Ficar revoltado com o cenário político atual é compreensível, mas não justifica virar as costas para seus deveres e direitos como eleitor cidadão. E desta vez não vou redigir nenhum pedido de desculpas: o pior tipo de analfabeto é o ANALFABETO POLÍTICO! Um esboço, um arremedo de cidadão, um ignorante assumido, preguiçoso, que nem tem o direito de reclamar depois. Você não pertence a essa categoria, pertence?

"Me chama que eu vou..." roubar sua cidade!

[Texto publicado em 4/setembro/2010 no Jornal "O Progresso", de Dourados, MS]

No site da Assembléia Legislativa de Mato Grosso do Sul — http://www.al.ms.gov.br/default.aspx?tabid=158 — o então deputado pelo PDT, Ari Artuzi, ao exercer seu segundo mandato, era assim apresentado:

"Ao chegar a Dourados, oriundo do interior do Rio Grande do Sul, o objetivo de Artuzi era trabalhar e ajudar seu tio na serraria de propriedade da família. Não existia por parte de Artuzi o interesse de ingressar na Política, mas ao ver o trabalho social realizado pelo seu tio Dioclécio Sucupira, que foi vereador em Dourados por dois mandatos, iniciou sua atividade social transportando, nas horas vagas, doentes para tratamento médico, em uma Belina, e pilotando uma camionete com que fazia mudanças para as pessoas que não podiam pagar o transporte."

E o relato prosseguia, revelando o crescimento de um forte desejo interior em Artuzi:

"A partir daí sentiu a necessidade de algo maior, e percebeu que seria mais útil se tivesse um cargo público. Candidatou-se a vereador no ano de 2002, tendo sido eleito com mais de 1,5 mil votos. Com apenas dois anos de mandato ajudou os mais necessitados e colocou à disposição da comunidade vários veículos, entre eles uma Van que em 2007 foi substituída por um utilitário de 16 lugares, zero quilômetro. No veículo está colocada a frase ‘Me Chama que eu Vou’, lema que o deputado carrega no seu dia-a-dia de trabalho."

E assim foi... Um começo tão interessante, que me deixou ressabiada. Entre a descrença total nas boas intenções do moço e um tênue fio de esperança, cheguei a pensar que suas ações acabariam se revelando prioritariamente assistenciais, que o jovem político daria o melhor de si para sanar as dificuldades de transporte dos que o elegeram prefeito de Dourados, que melhoraria as condições de saúde do município — e "ponto final".

Não foi nada disso que aconteceu: há pouco mais de um ano, o jovem prefeito Ari Artuzi saiu (quase) ileso da operação "Owari" ("ponto final", em japonês) da Polícia Federal. Mas nesta semana um furacão se abateu sobre Artuzi, levando-o para a cadeia juntamente com as imagens da sua velha Belina, sua van e 27 "utilitários" bem reais, de carne e osso (a "primeira dama", o vice-prefeito, nove vereadores — incluindo o presidente da Câmara Municipal —, quatro secretários municipais, cinco funcionários da prefeitura, o procurador-geral do município e seis empresários). O evento metereológico saneador foi outra operação da Polícia Federal, a "Uragano" ("furacão", em italiano).

Dourados... A pobre Dourados que sonhava em ser conhecida como "cidade universitária", hoje é notícia até na BBC de Londres — http://www.bbc.co.uk/news/world-latin-america-11160950 —, sem contar os vídeos postados no YouTube que mostram Artuzi recebendo propina.
 

Blog da Maria Eugênia Amaral Copyright © 2011 -- Powered by Blogger