domingo, 19 de setembro de 2010

Votando novamente (ou: como não ser enganado?)

Estamos imersos, atolados até o pescoço, em uma das maiores avalanches de denúncias e promessas do cenário político nacional. Imagens e textos de candidatos experientes e habilidosos, inexperientes e inábeis, com gradações que chegam ao quilate de humoristas profissionais. Chego a pensar que, para alguns deles, ser eleito é o de menos; o que interessa mesmo é o uso gratuito (às nossas custas) do horário político para se tornarem mais conhecidos e fazerem suas piadinhas em rede nacional — o sonho de todo comunicador. E na maioria das vezes os textos são hilários mesmo. A gente ri. Mas achar engraçado é uma coisa; votar em um comediante profissional é outra. Por favor! “Uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa.”

Enfim, tudo faz parte da grande festa cívica que é o período eleitoral. Democracia. Adoro! Fico feliz com todas essas manifestações de liberdade, de exposição dos candidatos e de suas propostas. Mas, assessorados por equipes de marqueteiros, os candidatos estão cada vez mais parecidos com produtos em vitrines. No final, corremos o risco de eleger a melhor embalagem sem sabermos o que vem dentro. Uma campanha eleitoral custa caríssimo e abre brechas para que cargos e almas coloquem seus preços no mercado eleitoreiro. Não há dúvidas de que o sistema precisa de reformas (outra encrenca no jogo de valores).

Enquanto isso, eleitores desavisados, tão inábeis quanto muitos candidatos, votam em “figuras interessantes”. Em um texto recente, comentei que não acreditava que existisse “tamanha ignorância entre os eleitores que votam em ‘Artuzis’”. E afirmei também que “com a quantidade de analfabetos funcionais e a deseducação reinante, não é de estranhar que isso aconteça. A ignorância transforma o cidadão em presa fácil dos oportunistas, carreiristas e ladrões. A educação, por sua vez, abre os olhos, faz pensar... Um eleitor que não é manipulado, nem comprado por ‘gentilezas’, que sabe ler e escrever e ENTENDE o que lê, é um eleitor perigoso, perigosíssimo: ele escolhe de fato em quem vai votar”.

Mas hoje, após conversar com dezenas de eleitores que votaram em Ari Artuzi para prefeito de Dourados, tenho um pedido de desculpas a fazer: me perdoem pela grosseira generalização, por chamá-los de ignorantes e de analfabetos funcionais. Percebi claramente que todos vocês simplesmente gostaram do que viram e ouviram na campanha simples e direta do então candidato Artuzi, com seu slogan “Ajuda eu!”. Um pedido, um apelo. Um toque de mestre, um bom marketing, uma mensagem implícita — “me ajuda que eu te ajudo” —, com ares ingênuos de boas intenções de um homem do povo. Muitos sonhadores correram a “ajudar”. E, exatamente como um desses eleitores me revelou: “Como eu ia adivinhar que ele era um ladrão descarado?”.

De fato, se Artuzi fosse um larápio mais hábil, Dourados ainda estaria sendo dilapidada. Mas as coisas estão evoluindo para melhor, ainda que a conta-gotas. Veja a “limpeza” que aconteceu no Amapá, o prefeito de Dourados que continua bem longe dos cofres públicos e a LEI DA FICHA LIMPA, que chegou em boa hora (apesar de candidatos corruptos, cujos registros de candidatura foram impugnados para as eleições de outubro, estarem apelando para o Supremo Tribunal Federal – STF – questionando a constitucionalidade da lei). Ninguém falou que novas conquistas são fáceis.

A propósito, informe-se sobre a ficha limpa dos políticos candidatos acessando o site do movimento popular que originou a lei: http://www.fichalimpa.org.br/

Aqui cabe uma ressalva: ajude de fato a você mesmo fazendo alguma coisa pela política no país, a começar pela sua própria casa. Não caia na história acomodada de “tenho nojo de política”, “aí só tem ladrão”, “vou votar em branco” ou “vou anular meu voto”. Converse, pense, assine uma petição on-line para o STF na defesa da Lei da Ficha Limpa, saia da mesmice. Ficar revoltado com o cenário político atual é compreensível, mas não justifica virar as costas para seus deveres e direitos como eleitor cidadão. E desta vez não vou redigir nenhum pedido de desculpas: o pior tipo de analfabeto é o ANALFABETO POLÍTICO! Um esboço, um arremedo de cidadão, um ignorante assumido, preguiçoso, que nem tem o direito de reclamar depois. Você não pertence a essa categoria, pertence?
 

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