Hoje me peguei falando e pensando em LIVROS. Como resisto fortemente a acreditar em mera coincidência, decidi organizar algumas ideias, dando vazão a essa antiga e sempre renovada paixão que hoje, mais e mais, tem se revelado um “caso de amor”: livros. Não tenho dúvidas: sou o que li! Desde a minha infância os livros me levaram a um universo inigualável em que a força gravitacional é gerida pelo pensamento. Se hoje tenho determinada opinião sobre isso ou aquilo, amanhã, após novas experiências, incluindo leituras, posso me questionar e até mudar de visão. Não há liberdade maior. O pensamento não tem grilhões, a não ser aqueles criados pela própria fantasia ou história de vida. O assunto é apaixonante e interminável, tal qual a nossa capacidade de conectar um pensamento a outro. E os livros... o que são, senão pensamentos impressos?
Com papéis substituídos pela tela de um monitor, os livros estão mais acessíveis do que nunca, em bibliotecas que permitem consultas online. Com um acervo digital impressionante, recentemente ampliado, a Biblioteca Brasiliana da USP recitou Borges, escritor argentino, na página de abertura do seu site, há quase dois anos. O poema não se encontra mais lá. Felizmente o guardei, para ser (re)encontrado hoje:
Dentre os instrumentos inventados pelo homem,
o mais impressionante é, sem dúvida, o livro.
Os demais são extensões de seu corpo.
O microscópio e o telescópio são extensões da visão;
o telefone uma extensão da voz e finalmente temos
o arado e a espada, ambos extensões do braço.
O livro, porém, é outra coisa.
O livro é uma extensão da memória e da imaginação.
Jorge Luis Borges, 1978.
Jorge Luis Borges, 1978.
Na época, com o lançamento da primeira biblioteca digital brasileira, pensei: Temos agora uma fantástica extensão da memória e da imaginação saltando da tela, fazendo a fusão do livro real com o universo virtual. Será o “livro digital” também uma extensão da luz? E que luz será essa? Ideias, pensamentos que iluminam a mente? O que Borges escreveria hoje sobre esse novo formato de livro?
O escritor peruano Mario Vargas Llosa — Prêmio Nobel de Literatura 2010 — falou sobre o livro digital em sua recente viagem ao Brasil:
“É uma realidade que não pode ser detida. Meu temor é que o livro eletrônico provoque uma certa banalização da literatura, como ocorreu com a televisão, que é uma maravilhosa criação tecnológica, que, com o objetivo de chegar ao maior número de pessoas, banalizou seus conteúdos.” Foi o que argumentou o escritor em uma palestra a professores e estudantes no Rio Grande do Sul, registrada pela Folha S.Paulo. Em sequência, Vargas Llosa admitiu que os formatos eletrônicos começam a suplantar o tradicional livro em papel, o qual, se não desaparecer, tenderá a ficar relegado a segundo plano.
“A preservação da qualidade cultivada no formato de papel está relacionada com o que diferencia a cultura da ciência. A ciência progride rompendo com o velho e obsoleto, enquanto as letras e as artes não se desenvolvem, só se renovam.”
O escritor também ressaltou que “na literatura, Cervantes é tão atual como Borges. A obra artística não morre com o tempo. Segue vivendo e enriquecendo as novas gerações”.
E fez uma advertência: “Temos de impor ao livro eletrônico a riqueza de conteúdo que teve o livro de papel. A pergunta é se realmente queremos isso”.
Com a palavra, o leitor!
[IMAGEM: Foto do escritor Jorge Luis Borges]