“Céu e Água II”, xilogravura de M. C. Escher (1938).
Maurits Cornelis Escher (1898-1972) sempre me encantou desde o primeiro desenho que vi, em livro presenteado por antigo amor nos anos 70. (Coisas do século passado.) Não sei se foi o amor ou o desenho, ou ambos, mas a partir daí me apaixonei pelo trabalho desse holandês genial. Hoje tenho vários livros e reproduções de sua obra e não me canso de admirá-la.
A gravura acima é uma das minhas preferidas. Nela, peixes e aves se revezam no contraste do papel, como se uma das espécies originasse a outra. Para a minha cabeça de bióloga, enxerguei na época uma poética visão do processo de mudanças evolutivas. Beleza e ciência em um desenho a mão livre, minucioso e milimetricamente calculado. Uma perfeita representação gráfica da evolução, feita em 1938 sem nenhum instrumento não-manual, quanto menos informatizado.
Esqueça as asas da minha imaginação. Se a imagem aqui postada não for suficiente para deixá-lo maravilhado, digite “Escher” em qualquer site de busca de imagens, ou vá à biblioteca mais próxima ou a uma boa livraria, e veja se não tenho razão. Reconhecido como um dos mais importantes e singulares artistas gráficos do século XX, sua arte tem apreciadores no mundo inteiro e em todas as faixas etárias. Sua fama se deve especialmente a seus desenhos de estruturas e construções impossíveis, embora sua obra também inclua trabalhos realistas.
Considerado um “desenhista matemático”, Escher produziu 448 litografias e xilogravuras e mais de dois mil desenhos. Em suas imagens, encontram-se arquiteturas, perspectivas e espaços que contrariam a lei da gravidade e princípios da física. Sua arte nos apresenta não somente a expressão de sua imaginação, mas também sua vívida observação do mundo que nos rodeia. Em sua obra gráfica está a revelação de que a realidade pode ser espantosa, mas compreensível e fascinante, mesmo quando parece irreal.
Hoje tive notícias do meu antigo amor que me iniciou no mundo mágico de Escher ao me presentear com o livro. Após alguns anos de desencontros, sem notícias, ele me localizou pela internet. Me googlou e encontrou este blog. Foi um reencontro muito feliz. Existem alguns dias em que o tempo para, e tanto faz se estamos em 2011 ou 1973. O sorriso da entrega, o gesto ao abrir o livro, o beijo, a emoção, a nitidez das imagens, a surpresa ao folhear página por página... Definitivamente, ontem ou hoje, agora ou no século passado, livro é presente de amigo, seja ou tenha sido ele um grande amor!