quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Ó nóis na Globo!

“Você não assistiu? Mas como? Todo mundo viu!”

E seguiram-se descrições das cenas do Jornal Nacional do primeiro dia de fevereiro. A reportagem fez a cidade ferver, ainda que em água requentada. Feridas foram reabertas, tal qual buracos mal tampados que reaparecem com a chuvarada. Dourados, Mato Grosso do Sul (dessa vez ninguém errou o nome do estado), foi contemplada com um verdadeiro festival de longas (e tristes) imagens gravadas ― com outras tantas AO VIVO ―, ao longo de intermináveis seis minutos... Uma eternidade. Você assistiu? Se quiser rever, basta clicar no vídeo abaixo.

O que poderia ter sido o sonho de qualquer cidade, com tamanha repercussão nacional, foi um banho de água fria na autoestima local ― água ainda mais gélida do que a lúgubre capa de chuva cinzenta da repórter sob a fina garoa noturna na praça mal iluminada. Como falar do impacto das filmagens sem parecer piegas ou prepotente, sem dar a ver uma face de caipira sem graça? Sem passar vergonha, muita vergonha? Sem parecer amante traído? Como reagir à exposição das feridas sem ficar com vontade de gritar: “Ei! Nós trabalhamos, e como trabalhamos! Roubaram muito por aqui, mas nós não queremos mais isso! Nem vamos permitir, com toda nossa força!”. Pensar assim dá um nó na garganta, que faz um baita gosto amargo subir até a boca.

Não somos apenas uma cidade que hoje paga, e paga muito caro, por atos dos corruptos. Dourados está profundamente machucada, não somente em seu orgulho. No fundo, isso é o que menos importa. A cidade está é dilacerada em seu viver, em seu espírito. Mas, como uma amiga atenta me disse, há um aspecto positivo na repercussão de nossa calamidade política: a repórter do Jornal Nacional concluiu a matéria dizendo que “agora a gente vai ficar de olho na nova administração que vem por aí”.

Ficar de olho? Pois vamos mesmo! Ah, se vamos!


 

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