domingo, 20 de fevereiro de 2011

Um anjo me adotou

Continuo neste planeta, não fui abduzida, não fiz qualquer tipo de contato com seres extraterrestres e tampouco ingressei em uma seita religiosa, mas fui adotada por um anjo. Não procurei e nem evitei. Foi um processo rápido e envolvente. Fui cooptada, cativada e aprisionada, suave e irresistivelmente.

Esse anjo, meigo como todos os anjos devem ser, entrou em minha vida sem pedir licença e tomou posse de meu coração. (Há de existir uma letra de música mais ou menos nesse tom.) E assim, sem mais nem menos, o anjo converteu-se em minha sombra. Uma sombra ágil, branca e bem-vinda.

Em minhas imagens infantis os anjos são poderosos e fortes e estão sempre prontos a me defender dos perigos. Coisas de anjo da guarda. Mas descobri na angelologia que é imensa a variedade desses seres, ordenados em uma complexa hierarquia celestial. Qual será a categoria do meu? Ele não me parece enquadrar-se na descrição de forte e poderoso... Na verdade, ele cabe em minha mão. Tampouco está pronto para me defender dos perigos. O avanço de um cão é suficiente para fazê-lo correr assustado e pular em meu colo. Mas seu olhar me transforma no ser vivo mais amado do planeta. É quase adoração. Chegou a deixar-me constrangida, de início.

Com o tempo, amolecida por aqueles olhos, nossos papéis se inverteram e passei a zelar por ele. Ou melhor, por ela. Ao contrário daquela história de que anjo não tem sexo... meu anjo é fêmea. Pequena, meiga e de olhar profundo, é ágil, elegante e adora brincar. Não é forte, mas tem porte de invencível. Amiga e companheira, me afaga com seu pelo branco e macio ao sentar em meu colo: Angel. Ela é uma micro-toy, ou mini-poodle ― seja lá qual for a denominação desses pequenos e adoráveis cãezinhos. Uma bola de pelos que corre alucinadamente pelo gramado até tropeçar e rolar na primeira curva. Uma amante de “Havaianas” ― deve ser a textura da borracha, porque todas as outras marcas são ignoradas ― que até parece haver nascido para fazer propaganda das famosas sandálias, que ironicamente, sob suas investidas, soltam as tiras de imediato.

Travessa e amável, Angel chegou a meus braços tão propensa a ser amada que me cativou com sua meiguice. Deve ter sido anjo um dia.
 

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