Uma pequena escultura
entalhada em marfim ― com 5,9 centímetros de altura e pesando 33 gramas ― é a mais
recente descoberta arqueológica e, provavelmente, o mais antigo dentre todos os
artefatos humanos esculpidos já encontrados. Com fartas e proeminentes mamas,
quadril largo e ampla área genital, a figura feminina foi submetida a exames
para datação que revelaram ter sido criada há 35 mil anos.
Encontrada pelo
arqueólogo Nicholas Conard em uma área da caverna de Hohle Fels, na Alemanha, a
“Vênus” (foto) veio revelar-se a nossos olhos modernos para polemizar a
história das manifestações artísticas, conforme relata seu descobridor em um
artigo publicado na revista científica Nature.
Uma curiosidade: a
“Vênus de Hohle Fels” não possui cabeça. Em seu lugar encontra-se uma pequena
cavidade arredondada. Tal característica, frisam os cientistas, é um forte
indício de que a escultura era usada como adorno ― informação sobre a qual não
resisto perguntar: adorno ou amuleto?
Um homem de 35 mil
anos atrás provavelmente reverenciava, adorando e temendo, a mulher ― aquele
ser estranho que sangrava todo mês e não morria por isso. Além do mais, quando
menos se esperava, ela ficava enorme e depois dava à luz. Uma nova vida saindo
por sua genitália devia ser algo bastante especial (e pensando bem, hoje, à
medida que aumenta nossa distância à natureza, talvez pareça mais especial
ainda!). Eu, se fosse um deles, carregaria pendurado no pescoço um pingente
dessa entidade poderosa para que essa grande mãe me protegesse, em todas as
paragens em que viesse a andar, a caçar, a dormir, a criar, a amar.