sábado, 12 de março de 2011

A medida do infinito

FONTE DA IMAGEM: site Microsoft Media Gallery

Tenho um amigo que é também escritor e, curiosamente, usa duas assinaturas. Uma delas — Felipe A.P.L. Costa —, mais antiga, é vinculada a textos científicos e frequenta a academia, desempenhando o papel, por vezes árduo e sempre rigoroso, de divulgar a ciência. A segunda assinatura — F. Ponce de León —, mais recente, se ocupa da poesia. É movida por um traço mais livre, com o propósito não menos árduo de difundir a criação poética e, quem sabe, estimular ao sonho de sair em busca da realização de desejos, tal como seu ancestral, o espanhol Juan Ponce de León, que no século XVI partiu ao Novo Mundo à procura da mítica “Fonte da Juventude”.

Meu amigo entrega-se à criatividade poética registrando-a no site www.poesiacontraaguerra.blogspot.com. O nome do blog — Poesia contra a guerra — é logo explicado: “A história da humanidade se confunde com a história das guerras. Deveríamos lutar para que se confundisse apenas com a história da literatura”. Assim, antevendo qualquer batalha, me sinto estimulada a “lutar” pela poesia.

Pródigo em sobrenomes, Felipe mantém a dualidade profissional como uma de suas facetas mais notáveis. De bem com a vida, utiliza sua capacidade de apreciar a beleza e de escrever sobre ela, deixando que a criatividade flua pelos dedos e fique registrada em sua página virtual.

Recentemente, o filho de uma amiga, estudando matemática, me perguntou o que era infinito. Fui salva pelo Felipe — mais exatamente por seu texto “Uma medida do infinito” (que tomei de empréstimo para o título desta crônica):

“No primeiro dia do ano, uma águia desce dos céus e sobrevoa o Himalaia.
Paira no ar e, a uns cem metros do cume, observa o alvo lá embaixo.
Por volta do meio-dia, bate as asas com força, produzindo uma corrente de ar.
O vento descendente sopra e afasta umas tantas partículas que cobrem o topo da rocha.
Chamamos de infinito o tempo que a águia levaria para desse modo desmontar toda a montanha.”

E assim, em palavras simples, o infinito foi por ele mensurado. Pensando em sua capacidade criativa, não tenho mais dúvidas: a fonte da juventude já foi encontrada, se não por seu ancestral, decerto por meu amigo Felipe, seu herdeiro. E a pista mais evidente sempre esteve à minha frente: a fonte está ao alcance de quem cultiva amigos que ajudam a sonhar. Amigos e poesia... É outra medida do infinito.

Adoro pensar e divagar. Sou capaz de passar horas e horas na companhia dos meus botões, matutando. Por vezes os pensamentos viram poesia. Mas nem sempre as palavras fazem uma boa tradução do pensamento, tão livre e ligeiro que escapa pelo canto dos olhos sem me dar tempo de transformá-lo em letras. Hoje fui mais rápida e peguei alguns desses pensamentos fugitivos pela ponta do dedão...

Sendo momentaneamente possuída por um clima de autoajuda, me arrisco a sugerir: se você tem vivido tal qual Ponce de León, em busca de fontes perdidas e sonhos distantes, não se esqueça de procurar por perto. A proximidade nos engana e a fantasia pode camuflar a realidade. Sempre se abrirá um caminho (nem sempre o racionalmente cogitado), para identificar sua fonte da juventude, da amizade e da liberdade para sonhar. Todas elas jorram, generosamente, em seu interior.

 

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