terça-feira, 16 de agosto de 2011

Van Gogh! Trigais, corvos, girassóis...


Quis revê-lo como se dependesse daquelas imagens para recalibrar luzes e cores em meu olhar. Entrei no Museu Van Gogh em Amsterdam e fui direto procurá-la: uma tela pequena que mostra trigais e corvos, cujo nome “oficial” não sei ao certo. No trajeto fiquei aprisionada pelas sombras dos “comedores de batatas” e pelo amarelo intenso dos girassóis. E reencontrei os campos com trigais:


Estanquei, sorrindo, novamente fascinada. Sempre que me aproximo dessa tela tenho a sensação de um forte vento no rosto. Fico absorta no jogo de suas amplas pinceladas, perceptível quando me aproximo e me afasto da pintura. E o faço calada, atenta, acesa, como se qualquer desatenção pudesse profanar a obra.

Com o olhar saciado e recalibrado pela paleta de cores de Van Gogh, sentei para me recompor. A memória saltitava de uma emoção para outra, repleta de fortes tons. Azuis e amarelos dominavam todas elas. Foi quando me veio à lembrança como a escritora Beatriz Xavier relatou seu primeiro contato com a obra de Van Gogh. Chegando ao Brasil tratei de procurar tal texto, que desejo compartilhar — na íntegra:

MANOEL E VAN GOGH

A cidade era Nova Iorque e o museu, o Guggenheim. Fiquei paralisada à frente do primeiro Van Gogh que vi: muito jovem, atônita pela impressão de não poder entender o que sentia. E como não conseguia dar nome para aquele instante, fiquei ali, saboreando a imagem e tentando racionalizar sobre as sensações que a arte produzia em mim.

Anos depois, recordo aqueles momentos diante de uma natureza morta ao ler Humano, demasiado humano, de Nietzsche: “Origens do gosto pelas obras de arte: entre populações selvagens encontra-se primeiramente a alegria de poder entender o que o outro quer dizer”.

“Ah!”, pensei. “Então deve ser isso.” E tentei me consolar com o filósofo, mesmo sentindo que entender, que é bom, não conseguira, não.

Daí encontrei Manoel de Barros, o poeta, e, no Livro das ignorãças, ele explicou direitinho:
Um girassol se apropriou de Deus: foi em Van Gogh.
Obrigada, poeta!

_________

[O texto "Manoel e Van Gogh" é de Beatriz Xavier Flandoli e está na página 196 do livro escrito em coautoria comigo: Duas impertinentes crônicas – 2006 – Editora Manole, S. Paulo, 216 p.]

[FONTE DA IMAGEM: Museu Van Gogh, Amsterdam.]


 

Blog da Maria Eugênia Amaral Copyright © 2011 -- Powered by Blogger