Sempre que você clica em busca de alguma informação, seja um texto, uma imagem ou um amigo, em qualquer site da rede, todas as suas “preferências” estão sendo registradas e armazenadas. Nem adianta deletar o histórico de suas navegações pela web (isso só funciona para manter a discrição entre usuários do mesmo computador). Acessou alguma coisa? Aquele “assunto” ficou cadastrado no site que você utilizou. Assustador, não é mesmo? Você, eu e todo mundo que usa internet estamos sendo “vigiados”.
Eu não sabia disso tão claramente, apesar de anos atrás haver chamado a atenção de alguns amigos para as propagandas que vinham “ao lado dos meus e-mails”. Achei muito estranho. Sinistro. Percebi na época que, dependendo do assunto abordado no e-mail recebido, uma ou mais propagandas o acompanhavam. Por exemplo, se um amigo estava na Flórida e escrevíamos sobre isso, surgiam propagandas de viagens e ofertas de passagens para os EUA. Se o texto falava em livros, apareciam links para livrarias. E assim por diante. Escrevi, incrédula, aos amigos: “Tenho a sensação de que alguém está lendo minhas conversas!”. Riram de mim (e eu também). Alguns comentaram que era somente um registro de palavras-chave do assunto. Eu continuei insistindo, desconfortável, me sentindo invadida. As tais palavras-chave nunca estavam no campo “assunto” do e-mail; eram trechos e mais trechos redigidos no texto enviado ou recebido. Mas o assunto acabou morrendo com o tempo.
Recentemente, um amigo me enviou um link para um vídeo: uma palestra de Eli Pariser revelando o papel da internet nos dias de hoje ao nos manter em um “filtro-bolha”.
Saiba quem é ELI PARISER: Americano nascido em Maine em 1980, Pariser foi programador de computadores e ficou conhecido ao lançar pela internet, em 2001, uma petição para que os Estados Unidos não reagissem militarmente em resposta aos ataques terroristas de 11 de setembro. Em cerca de trinta dias, antes de Pariser completar 21 anos de idade, a petição já tinha quinhentas mil assinaturas. Atualmente ele atua como ativista e cientista político e, em maio deste ano, lançou seu primeiro livro, The Filter Bubble: what the internet is hiding from you (“O filtro-bolha: o que a internet está escondendo de você”). E foi exatamente sobre esse livro que Pariser falou. Para acesso ao vídeo da palestra, clique em:
Após assistir ao vídeo entendi que a internet é hoje um “Big Brother”, sem câmeras e sem teletelas, feito na mais absoluta discrição. Da sociedade imaginada por George Orwell ― em seu “romance ‘quase’ ficção científica”, 1984 ―, não sobrou nem sequer a propaganda do sistema: “The Big Brother is watching you”. (“O Grande Irmão está observando você”, ou, como era para ser compreendido pela sociedade fictícia: “O Grande Irmão zela por você”.) Hoje, na vida real, o registro do que você faz na internet ocorre sem que você saiba, sem nenhum tipo de aviso ou sinal. O Grande Irmão é invisível.
O mais interessante é que não há nenhuma teoria conspiratória e tampouco a “vigilância” aterrorizante de Orwell. O que a internet está fazendo é programado para, digamos, “facilitar nossa vida”. Alguma coisa mais ou menos assim: com o acréscimo monstruoso de informações e de usuários, seria praticamente impossível mostrar, em uma busca qualquer, todos os resultados encontrados. E assim, conforme o perfil do usuário, o site de busca vai filtrar o que lhe será mostrado. É isso que Eli Pariser chama de “filtro-bolha”. Estrategicamente, Google, Yahoo e até Facebook, as search engines (termo que pode ser compreendido como “máquinas de busca”), omitem as informações que seus programadores julgam ser irrelevantes para cada um de nós, com base em nossos hábitos de pesquisa. Isso, porém, não é feito por funcionários. Em vez disso, o sistema opera com algoritmos (embora às vezes com alguma ajuda humana). O problema, diz o autor, é que assim deixamos de ser expostos a ideias contrárias, a opiniões que possam divergir das nossas, e vamos sendo jogados na direção daqueles que se parecem, filosófica e idealisticamente, com cada um de nós.
Você acha que “facilitar sua vida” é lhe mostrar só o que um sistema de busca acha que você quer ler e ver? E sua capacidade de escolha? Não deve ser respeitada? Afinal, ao acessar a internet você quer ideias e mais ideias. (Pelo menos é meu caso.)
Mas, como um amigo comentou: “Não há razão pra alarme. Há gente que só lê Veja. A bolha é a mesma”.