quarta-feira, 26 de outubro de 2011

A descoberta e a fama póstuma de Vivian Maier (1926–2009): uma babá, fotógrafa amadora

Autorretrato de Vivian Maier. 1955.

As imagens clicadas por ela foram acidentalmente encontradas em um leilão por John Maloof, um empreendedor da eBay e agente imobiliário de 29 anos de idade. Tudo começou nesse dia, em 2007, quando ele adquiriu seu primeiro lote de negativos de Maier por 400 dólares. Os trinta mil negativos haviam permanecido trancafiados em um armário, como parte de um conteúdo retido para quitação de dívidas da fotógrafa. Mallof se interessou pelas imagens ao saber que mostravam cenas de Chicago. Na época ele estava trabalhando em uma história ilustrada sobre o bairro Portage Park para a série “Imagens da América”, da Arcadia.

John Mallof não encontrou nenhuma foto de Portage Park entre os negativos. Na verdade, ele não sabia exatamente o que havia encontrado. “Eu nem sabia o que era ‘fotografia de rua’ quando os comprei”, revelou ele recentemente em uma entrevista sobre Vivian Maier.

Hoje ela é famosa nos Estados Unidos por seus flagrantes de cenas de rua, registrados com um olhar de rara sensibilidade. Na grande maioria das fotos conhecidas atualmente, feitas em Chicago e Nova York de 1955 a 1970, Maier mostra as pessoas imersas na solidão e no burburinho das cidades, ao mesmo tempo em que as revela em condições vulneráveis, nobres, derrotadas, orgulhosas, ternas, frágeis e, muito comumente, engraçadas.

John Maloof é hoje o principal entusiasta da fotografia de Vivian Maier e atualmente está catalogando e digitalizando 100 mil negativos da fotógrafa. E ainda tem que revelar várias centenas de rolos em preto e branco e cerca de 600 rolos de filme colorido. De parte do material já selecionado, Maloof montou um site - http://www.vivianmaier.com/ - e editou um livro de 144 páginas que está para ser lançado, com um autorretrato de Vivian na capa: 


Outro grande acervo — incluindo 15 mil negativos, 70 filmes de cinema caseiros e numerosos slides — está na Coleção Jeffrey Goldstein e pode ser parcialmente apreciado no site Vivian Maier Prints: http://vivianmaierprints.com/

A foto de abertura desse site, belíssima, é esta:


Pouco se sabe sobre a vida de Vivian. Há indícios de que, depois de nascer em Nova York em 1926, viveu na França (sua mãe era francesa) e retornou a Nova York em 1951. Cinco anos mais tarde, mudou-se para Chicago, onde trabalhou por cerca de quarenta anos como babá, principalmente para famílias dos subúrbios. Nos dias de folga, perambulava pelas ruas de Nova York e Chicago, quase sempre com uma câmera reflex – uma Rolleiflex de duas lentes. Ao que consta, ela não mostrava suas fotos a ninguém. Ela própria não chegou a ver muitas dessas imagens, pois deixou centenas de rolos de filme sem revelá-los. Quase todos foram entregues como pagamento de dívidas de aluguel em sua velhice. Maier morreu pobre, muito pobre. No final da vida chegou a morar nas ruas, as mesmas por onde passeou, fotografando, em seus dias de folga como babá.


 

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