Hoje, com certeza, é aniversário de alguém. Não importa de quem. Pode ser seu, meu ou de outra pessoa. Alguém está feliz – ou triste. Não conheço outros estados de espírito para aniversariantes. Quem diz que fica indiferente, mente. Indiferença em dia de aniversário é tristeza disfarçada, por vezes com um toque de arrogância. Em minha infância eu ficava alegre. Sempre tinha presentes, sorvete e pudim de claras ― que eu adorava comer imaginando serem “nuvens assadas” que derretiam na boca como um chuvisco de verão. Meu aniversário era um dia com regalias, travessuras perdoadas, abraços especiais, correrias pela casa e joelhos ralados sem o mercurocromo (e tampouco o iodo que ardia).
Hoje já não sou tão previsível. Por vezes fico alegre, por outras tantas fico triste. E também existem os aniversários em que me sinto indiferente (eu também tenho minhas fases de disfarçar tristeza). Mas na maioria das vezes não acho graça nenhuma em ter data marcada para comemorar. Prefiro festa de desaniversário.
Todo dia é desaniversário! (Todo dia, menos um: justamente a data de aniversariar.) Acho a ideia uma delícia: festejar o ano inteiro, sem se prender à agenda. E a invenção nem é minha. É criação de Lewis Carroll, em seu livro “Alice no país das maravilhas”. Nunca me esqueci da festa que o Chapeleiro Maluco fez durante seu chá. Carroll presenteou minha infância com uma divertida e intrigante palavra nova e um sentido inesperado para todos os dias do ano que “sobravam” sem comemorar.
Desaniversários são sempre bem-vindos. São festas sem dia certo e sem hora marcada. São celebrações cotidianas. Se os humores e os hormônios estiverem em equilíbrio, se o alinhamento dos planetas for favorável e se os amores mantiverem-se florescendo, não haverá uma única desarmonia no dia a dia das comemorações. Mas, regido pelos astros e guiado ao sabor da maré dos fluidos, meu desaniversário precisa de cor em tons de anil.
Pelas manhãs, ao abrir os olhos ainda inchados, gosto de espiar pela cortina azul de voal para ver se o dia está azul também. Desaniversários azuis! Eu jamais serviria para morar em países cinzentos. Viro gel, fico viscosa em dias escuros. Mas com céu claro...
Nem sei explicar direito o que é acordar sentindo o azul... Pela janela entreaberta, acompanhando a claridade, adentra uma lufada de ar fresco que me arrepia o corpo todo. E o azul me banha, me ilumina. Fico inundada com o lume, que nem pirilampo, acesa.
Com a alma cheia de luz, levanto-me feliz e lembro que posso fazer uma grande festa. Meu cachorro concorda e delicia-se rolando na grama, detendo-se a cada tanto para me olhar, convidando-me a fazer o mesmo. Afinal, hoje é meu desaniversário (e dele também).
E o seu? Vai passar esquecido, em brancas nuvens, ou imerso em azul? A decisão é sua. Mas eu adorarei dar um imenso abraço de Feliz Desaniversário em você também!