segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

Música para não esquecer

 

Clive Wearing é um maestro britânico que vive sob a hostil condição de esquecer tudo em 10 segundos. Sem memória recente, duas lembranças ainda permanecem: de sua mulher e das canções que aprendeu.

Assim começa o artigo de Thiago Camelo no Blog Bússola da revista Ciência Hoje On-line desse mês. Nele é descrito que a condição de Clive Wearing tornou-se conhecida recentemente depois que a BBC publicou, no final do mês passado, uma matéria sobre uma reunião de neurocientistas em Washington, nos Estados Unidos, onde a memória do maestro foi discutida.

Em 1985, Clive Wearing contraiu uma encefalite por herpes e, desde então, desenvolveu o maior caso de amnésia de que se tem notícia – Wearing retém, no máximo, 10 segundos de memória. Em outras palavras: ele está preso num presente absoluto, um mundo sem lembranças e – menos ainda – projeções.

“Ele responde perguntas, mas já não sabe o que ou por que foi perguntado”, diz sua mulher, única pessoa que Wearing reconhece, mas com certas limitações: todo encontro com ela parece ser o primeiro após muitos anos. Wearing, ao vê-la, reage sempre como quem tem muita saudade.

O que torna o caso desse homem ainda mais especial? Ele, hoje com 73 anos, apesar de não ter ideia de nada senão do agora, tem capacidade de ler partituras, tocar piano e reger um coro – todas as atividades realizadas com as habilidades que já lhe eram peculiares antes da doença.

A conclusão dos cientistas na conferência em Washington aponta para um cérebro que armazena a memória musical num lugar diferente do lobo temporal médio, afetado na enfermidade de Wearing e, de fato, fundamental para eventos que exigem lembranças do tipo “como”, “quando”, “onde”, mas aparentemente menos importante para lembranças de melodias, harmonias e ritmos.

O renomado neurocientista Oliver Sacks tratou do caso do britânico em seu livro sobre cérebro e música, “Alucinações musicais” (“Musicophilia” no título original, em inglês). Em sua análise, o neurocientista afirma que a música libertou Wearing de sua condição: “Quando há música, o homem volta a ser o que sempre foi”. Opinião que combina com a da mulher do músico, que em um recente vídeo disse: “A música é onde podemos estar juntos. Enquanto está tocando ele é inteiramente normal”.


FONTE DA IMAGEM: Foto de Clive Wearing tocando piano - The New Yorker
 

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