quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

“O caçuá do Paulo Robson”


O Prof. Paulo Robson escreveu o texto “O Desmemoriado” (que copiei e colei logo abaixo), para explicar as razões do nome caçuá, que identifica seu “blog de poemas quase esquecidos”. Um blog que foi montado há dois anos, mas que ainda continua em versão beta, ou seja, experimental, ainda não acessível ao público em geral.

Dois anos... Um blog quase esquecido... Mas, para quem se diz com problemas de memória, o cérebro de Paulo Robson está impecável, guardando o essencial para ser compartilhado: seu caçuá — um reservatório de histórias deliciosas, relatadas pela perspectiva do poeta que dosa as emoções com a formação científica de biólogo e que por vezes se deixa contagiar por inteiro, como criança na primeira ida ao circo.

Com a palavra, Paulo Robson — que, como mostra a foto abaixo, nem precisa de sementes no chapéu para ganhar o pouso inesperado de um “joão-pinto”. Poetas são assim mesmo, atraem bichos. Tal como disse Manoel de Barros: “Passarinhos do mato gostam de mim e de goiaba.”

O Desmemoriado

Vamos ver se me lembro... Caçuá (do tupi) é um tipo de cesto grande, geralmente feito de ramos de cipó ou vime rusticamente trançados, usado no transporte de alimentos e outros materiais nas fazendas. É carregado por burro ou jumento, equinos muito resistentes ao trabalho pesado. Isto eu me lembro bem: o caçuá é pendurado ainda vazio na cangalha, por uma alça, formando um par. Em seguida a carga é distribuída cuidadosamente, para que uma má distribuição do peso nos dois cestos não cause sofrimento ao animal.

Com este blog pretendo resgatar alguns poemas perdidos nas minhas velhas agendas (quase nunca utilizadas para marcar datas e compromissos!), ou  publicados não sei onde nem quando, uns tantos versos há muito ausentes na minha tênue memória, e mais outros, que há anos decidi concluí-los “depois” – dentre tantos que não merecem maior atenção. Ou seja: este é mais um espaço para um exercício mnemônico compartilhado, do que propriamente um objeto literário do tipo “obras escolhidas”.

Mas, em vez de chamá-lo de baú, termo mais associado à guarda de objetos caros, raros e finos, preferi denominá-lo caçuá, que me soa mais familiar pois que me traz diversas lembranças da minha infância na Piabanha, vale do Pardo, no sudoeste da Bahia – e, principalmente, porque combina mais com meus escritos, geralmente rústicos, pretensamente (ou desejosamente)  vertidos da poesia popular cantada nas feiras de Santana e de Conquista, na Bahia.

Diferentemente do baú, o caçuá é ambulante, roceiro, da gente simples, feito artesanalmente sabe-se lá desde quando e por quem nesta terra que ainda nem se chamava Brasil. O conteúdo do caçuá é discernível pelas frestas do trançado – cipós que formam paredes quase diáfanas, revelando objetos que contam histórias, incitam sensações, reavivam memórias...

Baú é aristocracia sobre cavalo branco. Prefiro os caminhos desbravados pelo jegue...


P.S. Hoje já é dia 30 de dezembro e acabei de ficar sabendo que o Paulo Robson "liberou" os acessos ao seu caçuá. Divirta-se:
http://www.paulorobsondesouza.blogspot.com/

 

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