sábado, 24 de dezembro de 2011

“Saber viver” até durante o Natal


Atualmente a simples expectativa do Natal me entristece. Conforme o tempo vai passando, sobe uma espécie de nó no peito que perdura, incomoda. Não sei bem qual a razão desse mal-estar, mas ele persiste e vai ficando cada vez mais intenso com a proximidade do Natal. São tantos apelos e pedidos, desejos, mensagens... Eles aumentam dia a dia e vão me envolvendo, me sufocando, me mostrando como devo ser bondosa, caridosa, amável e como eu mereço tudo de bom no Natal e em todos os demais dias do ano.

Não sei, mas há algo de falso nisso tudo. Há um certo exagero nesse “clima natalino”. Até pessoas que nunca vi me enviam mensagens melosas de paz e boa vontade. Não questiono a beleza do simbolismo da data, de forma alguma. E respeito quem a venera. Mas os excessos são desagradáveis. Tudo isso me parece uma overdose de doçura. E tenho tremenda dificuldade em lidar com exageros.

Eu estava justamente pensando nessa avalanche de rebuscadas mensagens natalinas quando recebi um e-mail de um amigo muito querido, meu ex-aluno. Nele, o Paulo diz somente isso: “Acho que você vai gostar deste poema de Cora Coralina. Feliz Natal. Beijo.” Que bom que existem pessoas que nos conhecem tão bem. Fiquei encantada com o texto da poetisa goiana (foto). Ele diz exatamente tudo o que sinto e que gostaria de ter escrito sobre “saber viver”. Como dar sentido à vida em qualquer dia do ano, simplesmente tocando o coração das pessoas, mesmo (e especialmente) no Natal. Que mulher simples e sábia era ela.

Obrigada, Paulo, e um Feliz Natal para você também. Outro beijo.

“Saber viver”

Não sei se a vida é curta ou longa demais pra nós,
mas sei que nada do que vivemos tem sentido,
se não tocamos o coração das pessoas.
Muitas vezes basta ser:
colo que acolhe,
braço que envolve,
palavra que conforta,
silêncio que respeita,
alegria que contagia,
lágrima que corre,
olhar que acaricia,
desejo que sacia,
amor que promove.
E isso não é coisa de outro mundo,
é o que dá sentido à vida.
É o que faz com que ela não seja nem curta,
nem longa demais.
Mas que seja intensa,
verdadeira, pura... Enquanto durar

Cora Coralina – poetisa de Goiás


 

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