quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

“Amor e outros bichos”, por Terry Tom Brown

Com o subtítulo “Um primata dá uma aula cabeluda sobre intimidade”, o artigo de Terry Tom Brown – publicado no jornal britânico The Guardian (www.guardian.co.uk), me reavivou a memória sobre as aulas de comportamento animal, quando em muitas ocasiões a teoria era mesclada com divertidas comparações entre nós e outros bichos.

Não resisti. Providenciei uma versão em português e decidi compartilhar o bem-humorado artigo com duas intromissões que, por uma questão de clareza, e respeito ao texto original, mantive entre colchetes: [ ]. E vale esclarecer que tais intromissões foram feitas muito mais por diversão e vontade de “participar” de um texto que eu mesma gostaria de ter escrito, do que por qualquer desacordo com o autor. Obrigada Terry! E obrigada ao Peter Moon pela dica.

Uma fêmea de mico-leão-dourado (Leontopithecus rosalia rosalia) com seu filhote. Foto: Alamy / www.guardian.co.uk

Um primata dá uma aula cabeluda sobre intimidade

Tal como entre nós, a higiene tem papel importante em outros setores do reino animal. O asseio animal pode consistir em vasculhar a pelagem, escarafunchar as penas ou inspecionar as escamas. Quando os micos-leões-dourados não estão a balançar-se por entre as árvores da América do Sul, mantêm-se ocupados asseando-se uns aos outros. [Tal asseio é habitualmente chamado de “catação” e adoro interpretá-lo como um “cafuné mútuo” quando realizado por dois adultos saudáveis do bicho-gente.] Nesses macacos, isso melhora a higiene da tribo e fortalece as relações entre possíveis parceiros. Os seres humanos respondem de forma muito diferente quando tais atividades são realizadas neles, e não por eles.

Quando o relacionamento é sério, qualquer imperfeiçãozinha salta aos olhos. Talvez seu par não consiga deixar de lhe ajeitar o cabelo, de lhe tirar fiapinhos da roupa ou de aparar-lhe as unhas, ou quem sabe lhe peça para usar uma fragrância diferente. Você poderia se perguntar: como minha cara metade ousa macular a visão idealista que outrora teve de mim? Todos conhecemos ao menos um casal que arranca cílios desalinhados um ao outro ou (por vergonha) tira cravos mutuamente – e achamos que essa gente é maluca. Faz lembrar o afã de nossas mães em umidecer um lencinho com saliva e nos passá-lo no rosto para tirar alguma sujeirinha. A mera cogitação em revelar essas... macaquices familiares poderia deixar você de cabelo (ou pelo) em pé. Nos tempos medievais, catar piolhos era uma atividade social de primeira necessidade. Mesmo hoje, ninguém se recusaria à satisfação de lhe escovarem o cabelo ou de deleitar-se na banheira com a pessoa amada.

Os antropólogos e primatologistas concordam que o asseio mútuo pode ter levado ao surgimento da linguagem. Será que a razão de não rejeitarmos essa intimidade é porque ela funciona como lembrete de que éramos animais há não tanto tempo?

Para os micos-leões-dourados, praticar a higiene mútua cria fortes laços sociais. Valem-se dela para resolver conflitos, reduzir tensões e stress e também, o que não é surpresa, para estimular a atividade sexual. A prática também lhes garante uma bela e saudável pelagem dourada. Os seres humanos mais habituados com o asseio mútuo têm relacionamentos mais românticos, satisfatórios e duradouros. É curioso, então, que tantos enxerguem essa atividade como primitiva. [É uma atividade primitiva! E daí? Não vejo nenhum problema. Só acho que relacionamentos duradouros não são necessariamente associados a asseio mútuo. Conheci vários casais que tiravam cravos mutuamente e estão separados, para alívio dos amigos íntimos que assistiam aos desagradáveis atos. Mas conheço muitos casais que fazem cafuné há anos e continuam juntos, praticando esse divertido ritual (primitivo!) que me parece simular a catação de piolhos.]

Em nossa evolução rumo à autossuficiência, teremos perdido outra oportunidade de interagir com nossos companheiros? Para os micos-leões-dourados – e para as poucas pessoas que se permitem um nível moderado de codependência – há recompensas. No entanto, a maioria de nós resiste. Talvez se pararmos de tentar nos separar dos outros animais, possamos passar menos tempo separados uns dos outros.
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Para acesso ao artigo original:
 

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