Uma senhorinha meiga, de voz
doce, que adora escrever. Acabei de conhecê-la e fiquei encantada com suas
histórias. Poeta, fala de sonetos, trovas e haicais com a desenvoltura do conhecimento.
Foi professora de inglês, português e literatura e passou a vida cercada por
poesia. É mineira de Pedralva, uma pequena cidade em que alguém transformou a
cor de uma grande pedra em nome, e com 18 anos mudou-se para Barra Mansa, onde se
casou e teve filhos — dois, três, quatro, cinco... todos homens. E continuou
até o... sétimo, à espera de uma menina que não veio.
Matilde criou raízes e paixões
na cidade mansa, onde cantou, lecionou e até formou um grupo de amantes das
palavras: o “Grêmio Barra-mansense de Letras”. Como se não bastasse, revelou
novos talentos em competições literárias — “Poetando” e “Concurso Estudantil de
Redação” — e também fundou corais, grupos de teatro e grêmios estudantis.
Ontem não resisti e perguntei-lhe
sobre a estrutura de um poema. Recebi uma aula sobre sonetos e trovas, com
estrofes, quartetos, tercetos e rimas. Aprendi que existem regras sobre a
sonoridade dos versos. Curiosa com a métrica de uma trova, despendi um tempo
razoável para encontrar as palavras certas na composição dos sete sons de cada verso.
Que nem criança com sorvete novo, lambuzei-me com as palavras. A mestra,
atenta, me mostrou cada excesso. Depois da aula fui embora, mas voltei no dia
seguinte com a lição feita:
“Insight”
Correu de encontro à lua;
em estrelas tropeçou.
Quase louca e nua:
“Não estou morta!”, gritou.
Agora, ao reler minha obra, dou
risadas. Mas Matilde, gentil, me incentivou ressaltando a imagem poética, sem sequer
comentar as reiterações em “ua-ua” e “ou-ou”, sons tão banais. Foi tão enfática
em falar das qualidades da minha trova, que nem chegou a apontar as rimas
pobres. Por pouco, muito pouco, não me senti poeta. O que uma boa
professora não faz...