É isso mesmo. Que dia é hoje? Não
basta ser sábado ou domingo, dia 28 ou 29 de julho. Atualmente nenhum dia fica impune;
há sempre algo mais em uma data qualquer. Quer conferir? Vamos dar uma espiada na
última semana: na sexta-feira, 27, comemorou-se o Dia do Motociclista; a
quinta-feira, 26, foi o Dia dos Avôs; já 25 de julho, que celebrou o Dia de São
Cristóvão, foi a data campeã da semana com o Dia do Motorista, do Taxista, do
Caminhoneiro, além de ter sido o Dia do Colono, do Escritor e da Mulher Negra Latino-Americana
e Caribenha. A terça-feira, 24 de julho, foi o Dia da Iluminação Elétrica e a
segunda-feira, 23, foi dedicada ao Guarda Rodoviário. Na semana anterior, o dia
19 (ou terá sido 20?) foi o Dia dos Amigos. Tudo isso sem esquecer aqueles (e
aquelas) que gostam da grafia politicamente correta: Dia do Motociclista e da
Motociclista, do Caminhoneiro e da Caminhoneira, dos Amigos e das Amigas, dos
Avôs e das Avós.
E há mais, muito mais... Não há
data que escape: Dia do Cantor Lírico e do Futebol, Dia da Junta Comercial, do
Comércio, do Comerciário e do Comércio Exterior. Muitas datas comemorativas são
marcos importantes para categorias de trabalhadores, algumas representam dias
de luta, outras lembram ganhos na justiça e há aquelas que registram tragédias.
São dias e mais dias, feriados ou não, comemorados efusivamente ou ignorados.
Muitos foram planejados, cuidadosamente, para mobilizar o comércio em grandes
vendas; outros relembram fatos que nunca deverão ser esquecidos.
Geralmente não me lembro de
datas. Essas lembranças tornam-se um hábito somente quando certos eventos se
repetem em nossa vida. E é exatamente isso que tem me preocupado: cenas persistentes,
assustadoramente presentes no cotidiano de todos nós.
Pense um pouco. O que tem
acontecido todo dia? Basta ler um jornal, ver o noticiário de qualquer canal de
TV ou mesmo conversar com um vizinho. Você já sabe do que estou falando... Todo
dia alguém sofre algum tipo de violência. E violência gera notícia. Em minha percepção,
quanto mais o assunto se prolonga, maior é a sensação de que algo maléfico nos
envolve.
Entristece-me (e me assusta)
ver pessoas que comentam atos violentos com a maior naturalidade, e até certo frisson, como quem relata as cenas
empolgantes de um ator recém-premiado.
Estamos chegando a uma situação
limítrofe: a da violência que perde, cada vez mais, a sua verdadeira face —
deformada, velada —, e se transforma em um espetáculo de reality show. A violência que a sociedade enferma finge não ver, evita
discutir e insiste em
acobertar. A violência aceita como um determinado “preço” por
isso ou por aquilo. Assim, simples, familiar, como qualquer evento rotineiro.
E por falar em evento, qual será
o dia da semana mais violento? Pensando bem... Que dia é hoje?