Li no “Caderno da Cidadania” do Observatório da Imprensa e
achei que você também gostaria de ler:
MAPA
DA VIOLÊNCIA
De que morrem nossos
jovens
Por
Luciano Martins Costa em 18/7/2012 na edição 703
Comentário para o programa
radiofônico do OI, 18/7/2012
Uma
das questões mais sensíveis da sociedade brasileira contemporânea é tratada na
edição desta quarta-feira, dia 18, dos principais jornais do país. Trata-se dos
indicadores de violência contra jovens e adolescentes, uma verdadeira epidemia
social que denuncia uma grave patologia, representada pela incapacidade de
lidar com a rebeldia natural da juventude.
Os
dados do Mapa da Violência 2012
revelam que os assassinatos de jovens até 19 anos cresceram 376% desde 1980,
enquanto o total de homicídios com vítimas de todas as faixas etárias subiu
259%. Em muitos casos, os autores das mortes são policiais.
Os
números revelam que há baixíssima tolerância, em geral, para atos de
delinquência ou simples rebeldia praticados pelos mais jovens. Entre as causas
do aumento da violência contra essa faixa da população pode estar a maior
liberdade de movimentos que os jovens e adolescentes ganharam nas últimas
décadas, passando a se expor mais frequentemente a situações de risco no
ambiente externo ao de suas casas.
No
entanto, há sinais muito claros, segundo analistas citados pela imprensa, de
que a sociedade, de modo geral, os governos e em especial os agentes públicos
encarregados da segurança não conseguem lidar bem com o comportamento muitas
vezes desafiador da juventude.
Em
1980, os assassinatos de crianças, adolescentes e jovens representavam 11% do
total de mortes registradas no Brasil. Em 2010, essa proporção subiu para 43%,
segundo os dados do Ministério da Saúde. Ainda que se desconte o fato de que o
critério de registro mudou entre 2002 e 2010, com mais qualidade nas
estatísticas sobre mortes, não há como escapar ao fato de que é cada vez mais perigoso
ser jovem no Brasil.
Outro
aspecto que transparece do estudo é que, com a redução das migrações para as
grandes cidades, a violência se espalha por todos os lugares. Entre os estados
em que mais aumentou o número de assassinatos de jovens e adolescentes estão
Alagoas, com uma taxa de 34,8 homicídios por 100 mil habitantes; Espírito
Santo, com 33,8; e Bahia, com 23,8 por 100 mil.
Cultura de paz
Os
jornais que trazem essas estatísticas também registram casos recentes de
adolescentes e jovens mortos em supostos confrontos com a polícia,
principalmente nas regiões mais pobres do país. Num desses casos, ocorrido em
Guarulhos, na região metropolitana de São Paulo, moradores bloquearam ruas e
incendiaram um ônibus, em protesto contra o desaparecimento de dois jovens,
ocorrido na semana anterior. Eles haviam sido detidos por policias militares e
não foram mais vistos.
Esse
é um dos casos típicos entre os que engrossam as estatísticas de violência. Mas
há também agressões em baladas e outros eventos, brigas de torcidas de futebol,
desentendimentos banais e acidentes como causas da perda de vidas muito jovens.
Nos
últimos trinta anos, foram 55 mortes diárias, em média, o que coloca o Brasil
num lugar destacado em termos de insegurança: somos o quarto país onde mais se
mata jovens e crianças em todo o mundo. Os jornais não dão conta de se
aprofundar na explicação dessas trágicas estatísticas, mas alguns estudiosos
consultados na pressa das edições diárias falam sobre a dificuldade de pais e
autoridades de lidar com a imaturidade dos mais jovens.
A
juventude é, de fato, o tempo da indisciplina e das contestações, o que pode se
revelar fatal, em determinadas circunstâncias, numa sociedade que ainda não se
livrou do autoritarismo. Há claramente uma atitude preconceituosa de agentes de
segurança contra jovens e adolescentes das comunidades pobres.
Mas
há outros elementos não abordados nas reportagens, como o fenômeno da quebra de
vínculos sociais. Numa sociedade que experimenta significativas melhorias no
campo econômico, seria de se esperar que a diminuição dos quadros de carência
extrema se refletisse também na redução de conflitos.
A
permanência e até mesmo o agravamento da violência contra os brasileiros mais
jovens, e por isso mais expostos aos riscos externos, estão a denunciar a
necessidade de uma ação de longo prazo em várias frentes. Numa delas, é preciso
reeducar as autoridades e todos os demais agentes de serviços públicos e
privados, para que desenvolvam mais tolerância com relação à natural espontaneidade
e rebeldia dos mais jovens. Em outra frente, é necessário desenvolver a sério
uma campanha permanente em favor de uma cultura da paz.
Em
todos esses casos, a participação da mídia é fundamental.
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Não é por nada não,
mas será que não se esqueceram de outro “fator de mortalidade”? Refiro-me à mão
de obra infantil e adolescente que é cooptada pelo crime organizado (e pelo desorganizado
também). Centenas de jovens que são iludidos pelo (aparente) dinheiro fácil da
contravenção, em uma sociedade absurdamente consumista que só valoriza quem “tem”,
quem “pode”. Como fica a cabeça de um adolescente sendo bombardeada pela importância
e valorização dos bens de consumo?
“Em todos esses casos,
a participação da mídia é fundamental.” E como é!