segunda-feira, 16 de julho de 2012

Uma paixão peluda



Passei a infância sem nenhum bicho de estimação, em uma chácara repleta de animais no quintal e dentro de casa. A poucos metros da janela de meu quarto, um pomar dava guarida a dezenas de espécies de pássaros que me acordavam antes do nascer do sol. Mas, se houvesse competição matinal de barulho, o alvoroço do galinheiro seria campeão. Um pouco além do pomar, as vacas holandesas tomavam conta do pasto e a cachorrada corria com alguns bezerros.

Circulando pela casa, a fauna também era expressiva. Um papagaio surtado gritava “Louro! Dá o pé, Louro!” – o dia inteiro. Uma arara aparecia voando na hora do almoço, comia mamão na janela da cozinha e ia embora, para voltar no outro dia. Uma gata de nome estranho – Ansialízia – rasgava as almofadas da sala como passatempo predileto e, à noite, dormia na cama sobre os pés de meu pai. Um galo enorme, criado como pinto guaxo, vivia mais na varanda que no galinheiro, e um cachorro, sempre assustado, corria quando minha mãe aparecia. Pois ela, que (inacreditavelmente) odiava animais soltos pela casa, nunca permitiu que eu tivesse um. Por alguma razão que desconheço, essa decisão materna soou tão forte que, mesmo entre tantos bichos, não conseguia chamar nenhum de “meu”.

Cresci. Nunca mais pensei em ter um bicho, até que fui fulminada por um caso de amor à primeira vista. Recíproco. Quando passei em frente a um pet shop, nos olhamos ao mesmo tempo e ele se lançou adiante, raspando as patas desesperadamente contra o vidro, chamando-me. Ele tinha 42 dias e era como um ursinho de pelúcia com olhos luminosos. E eu prontamente atendi a seu chamado. Foi um relâmpago. Uma escolha mútua.

Desde então recebo beijos caninos diariamente. Dezenas de dóceis e meigas lambidinhas em meu queixo. E fico derretida como criança apaixonada pelo mais belo brinquedo novo.

Blógui Dógui Amaral Au-Au: esse é o nome de meu poodle toy. Bem... Toy, no caso dele, foi só no papel. Blógui cresceu mais que o esperado e hoje, com três anos, é um senhor cachorro que me adestrou adequadamente. Sou obediente e entendo suas necessidades. Brincamos com sua bola predileta, corremos pelo gramado e tomamos nossas refeições juntinhos. Ele tem os seus defeitos. É possessivo e late grosso, como o macho-alfa do pedaço que conhece seu território e sabe defender o que é seu. Meu coração faz parte de suas posses (e tenho certeza de que ele sabe disso muito bem).

Como é que pude viver saudavelmente esse tempo todo sem um cachorrinho perto de mim?

 

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