Agora é oficial: a primavera chega amanhã,
sábado, dia 22 de setembro, às 10h49 — horário de Mato Grosso do Sul. E, depois
de tantos dias quentes e secos, a chuva caiu copiosamente, lavando e limpando
ruas, praças, jardins e quintais, como quem prepara a cidade para uma grande
festa.
Lá em casa nem deu tempo pra esperar até
amanhã. Minhas plantas, que por vezes não dão muita atenção ao calendário,
esverdearam fortemente e floresceram às pressas, como quem não aguentava mais
tanta tensão e espera. Elas me confessaram que foi culpa da chuva. A água foi
tão fresca e abundante que, durante a noite, em uma assembleia extraordinária,
decidiram por unanimidade relaxar o controle dos irrequietos e ousados botões e
deixarem-se florescer. “Uma florada, duas ou pouco mais”, disseram-me a boca
pequena, “até a primavera tomar conta de tudo”.
Eu não me incomodei com a florada fora de
época. Ao contrário, gostei! E ri muito (disfarçadamente, é claro) das
preocupações da Sra. Íris ao me contar as propostas “revolucionárias” de suas flores
que querem durar mais que um dia. Tentei tranquilizá-la: “Hoje existem muitas
plantas geneticamente modificadas. Durar mais de um dia vai acontecer a
qualquer momento”. Mas ela não se conformou e até me fez um pedido: “Quando
essa nova geração chegar, por favor, acomode-a em um canteiro distante do meu”.
Fiquei sem saber como reagir, evitando magoar Dona Íris. Mas criei coragem:
“Até posso plantá-las em outro canteiro, mas vai ser impossível controlá-las”.
E, diante de suas folhas alarmadas, acrescentei: “Certas mudanças são como o
pólen: estão no ar!”.
No final do dia, enquanto as íris esmaecidas
se preparavam para sementes, com a languidez de quem já cumpriu seus êxtases, duas
delas ainda mantinham o viço, com caras pintadas.