sexta-feira, 21 de setembro de 2012

Antes da primavera, uma assembleia de plantas



Agora é oficial: a primavera chega amanhã, sábado, dia 22 de setembro, às 10h49 — horário de Mato Grosso do Sul. E, depois de tantos dias quentes e secos, a chuva caiu copiosamente, lavando e limpando ruas, praças, jardins e quintais, como quem prepara a cidade para uma grande festa.

Lá em casa nem deu tempo pra esperar até amanhã. Minhas plantas, que por vezes não dão muita atenção ao calendário, esverdearam fortemente e floresceram às pressas, como quem não aguentava mais tanta tensão e espera. Elas me confessaram que foi culpa da chuva. A água foi tão fresca e abundante que, durante a noite, em uma assembleia extraordinária, decidiram por unanimidade relaxar o controle dos irrequietos e ousados botões e deixarem-se florescer. “Uma florada, duas ou pouco mais”, disseram-me a boca pequena, “até a primavera tomar conta de tudo”.

Eu não me incomodei com a florada fora de época. Ao contrário, gostei! E ri muito (disfarçadamente, é claro) das preocupações da Sra. Íris ao me contar as propostas “revolucionárias” de suas flores que querem durar mais que um dia. Tentei tranquilizá-la: “Hoje existem muitas plantas geneticamente modificadas. Durar mais de um dia vai acontecer a qualquer momento”. Mas ela não se conformou e até me fez um pedido: “Quando essa nova geração chegar, por favor, acomode-a em um canteiro distante do meu”. Fiquei sem saber como reagir, evitando magoar Dona Íris. Mas criei coragem: “Até posso plantá-las em outro canteiro, mas vai ser impossível controlá-las”. E, diante de suas folhas alarmadas, acrescentei: “Certas mudanças são como o pólen: estão no ar!”.

No final do dia, enquanto as íris esmaecidas se preparavam para sementes, com a languidez de quem já cumpriu seus êxtases, duas delas ainda mantinham o viço, com caras pintadas.

 

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