Depois de 64 anos, o
Brasil volta a ser palco do maior espetáculo esportivo do planeta — a Copa do
Mundo de Futebol — e qualquer mascote que seja escolhido para o evento deve
mostrar a ‘cara’ do Brasil e a ‘cara’ do nosso futebol. A Associação Caatinga,
instituição que defende a valorização e a proteção da nossa biodiversidade, tem
como proposta de mascote um animal muito especial e peculiar que só existe aqui
no Brasil: o tatu-bola (‘Tolypeutes
tricinctus’), assim chamado devido à habilidade de curvar-se sobre si
mesmo para se proteger quando ameaçado, ficando no formato de uma bola. De
hábito noturno, alimenta-se de formigas, cupins, aranhas e frutas. É o tatu
mais ameaçado do Brasil e a sua caça já o fez desaparecer de muitos estados.
Uma espécie só nossa, de comportamento tão peculiar, que poderia abrilhantar a
Copa, mostrando ao mundo a nossa rica natureza e o nosso compromisso com a
biodiversidade, além de sensibilizar o povo brasileiro para a defesa e a
proteção da nossa natureza. Esse gracioso animal tem no nome a principal
protagonista do futebol: a bola. Mascote perfeito para a nossa Copa.
Com essa justificativa, a ONG Associação Caatinga fez uma forte campanha pelo tatu-bola como
mascote da Copa. E obteve sucesso! No último dia 11 de setembro ele foi
registrado, no Instituto de Marcas e Patentes da Suíça (país em que a FIFA está
sediada), como a mascote da Copa do Mundo de 2014.
Os demais candidatos eram o saci, a onça, o jacaré e o
Pelezinho. Confesso que torcia para o saci. Gostava da proposta de seus
defensores, a irreverente Sociedade dos Observadores de Saci — www.sosaci.org — e seus especialistas no
assunto, os “saciólogos”.
Agora, ao reler que a mascote eleita tem a habilidade de
curvar-se sobre si mesma para se proteger, ficando no formato de uma bola,
todas as minhas restrições foram água abaixo. Percebi que o tatu-bola revela
uma nuance interessante do espírito nacional: se estamos correndo perigo, nos
protegemos da melhor forma possível. Não só relaxamos ao jogar futebol, mas nos
transformamos na própria bola. Uma fantástica capacidade de disfarce. (Que me
perdoem os sociólogos, os psicólogos e outros “ólogos”, mas vou abusar da
imagem.)
Como brasileira, não faço parte da torcida de uma Copa;
faço parte do time. Entro em
catarse. Sou a trave que impede o gol adversário. Sou o suor
do artilheiro. Sou a chuteira, sou a bola!