sábado, 3 de novembro de 2012

“Caçadores da Alma” – revelando a essência da fotografia


Caçadores da Alma é uma série produzida para a TV Brasil, com direção de Silvio Tendler, que aborda a arte da fotografia, reconhecendo seus principais personagens: os fotógrafos e suas obras!

Na sua estréia, em 26 de setembro de 2012, com o episódio “Nas trilhas da natureza” (aqui mostrado em vídeo), a série apresentou fotógrafos de natureza em seus aspectos mais profundos: o que pensam a respeito dela, como (re)construíram um olhar sobre o mundo natural, a beleza da flora, o desafiador do animal, os limites da humanidade, o indomável e o papel de resistência da fotografia na luta contra a tragédia da poluição. Da Amazônia à África e da realidade dos vazamentos de óleo à natureza feérica dos sonhos, com as mais diversas paisagens desbravadas pelos fotógrafos Antonio Saggese, Araquém Alcântara, Christian Cravo, Custódio Coimbra, Evandro Teixeira, Izan Petterle, Ricardo Azoury, Roberta Carvalho e Robinson Roberto.

Direção: Silvio Tendler
Diretor Assistente: Luis Carlos de Alencar
Produção: Caliban Cinema e Conteúdo
Trilha sonora: Vinícius Junqueira e Henrique Peters

[clipado da TV Brasil]



quinta-feira, 1 de novembro de 2012

Um concerto para piano em Dourados, MS


Sabe quando acontecem coisas que você não sabe explicar? Pois é. Foi assim comigo e com o pianista André Matos Moreira. Era um final de tarde, há pouco mais de um ano, na livraria Canto das Letras. Eu conversava com amigos e ele escolhia um livro ao lado. Começamos a falar de família e ele se aproximou. Descobrimos que éramos douradenses e parentes distantes, primos em algum grau — seu trisavô era meu bisavô. Foi divertido. Cada um falou de si com a maior desenvoltura, rimos dos rumos que nossas vidas haviam tomado e percebemos que tínhamos muito em comum, apesar de um ignorar totalmente a existência do outro até alguns minutos antes.

Dessa empatia surgiu uma grande amizade e a sensação de que eu conhecia André há décadas. Um dia, em meados de junho, ele apareceu com a ideia de organizar um recital de piano. De pronto foi como se a proposta fosse minha e, como tal, decidi promovê-lo na forma de um concerto beneficente. Um mergulho em águas desconhecidas, às cegas. Errei, acertei e aprendi muito. E o André trabalhou e estudou, incansavelmente. Foram meses de cuidados minuciosos para nada dar errado, enquanto ele ensaiava, horas a fio, as peças musicais para o evento.

Escolhemos o Teatro Municipal de Dourados para o concerto e nos preparamos para atrair um público que sentíamos que existia, mas cujo seu exato paradeiro desconhecíamos. A mídia nos ajudou muito na divulgação, tanto a TV Morena quanto os canais locais (Gran Dourados e Boa Vida) e, em especial, o jornal O Progresso. Mas, apesar de toda a publicidade, estávamos apreensivos. Muitos recitais que professores de piano e seus alunos ofereciam gratuitamente garantiam a audiência com as respectivas famílias. A cidade já havia lotado uma praça pública para ouvir Arthur Moreira Lima ao piano – um evento de entrada livre, absolutamente informal, com pipoqueiros e crianças correndo. Em nosso caso o ingresso era pago, em um ambiente fechado e “formal”, para ouvir piano em um sábado à noite, em uma cidade que respira música sertaneja. Haveria público? Como se não bastassem todas as dúvidas, as pessoas não se decidiam a comprar os ingressos, apesar do valor de R$ 20,00 (com meia entrada por R$ 10,00): “Depois...”, “Vou ver quem vai comigo”, “Deixa pra semana que vem!”.

E... chegou o dia: sábado, 27 de outubro de 2012. No final da tarde fiquei conhecendo Gabriela Porazzi, a aluna de André que tocaria algumas peças com ele. Confiante, fui logo perguntando quantos ingressos ela havia vendido. “Cinco!”. Eu não sabia se ria ou se gritava. O piano precisava ser afinado. O afinador atrasou-se mais de duas horas e, no exato momento de começar o concerto, a sala ecoava com... plim! plim! plim! O afinador, o melhor do estado, fazendo seu conserto! Dos bastidores, ouvindo aquele som irritante, eu transpirava em bicas e fuzilava o afinador com o olhar. Foi quando um burburinho, cada vez mais intenso, começou a abafar os toques ao piano. Através de uma providencial fenda lateral da cortina, presenciei o teatro se enchendo. Uaaau!

O plim-plim finalmente aquietou-se e quase carreguei o afinador palco abaixo, agradecendo, dando-lhe água e mostrando-lhe as escadas para que se acomodasse na plateia. Incrédula, ainda precisei aguardar alguns ajustes técnicos dos profissionais que contratei para as filmagens. Corri então a apresentar o André e... alguém havia desconectado o microfone. Fiz minha parte, quase aos gritos. E assim, no último instante, os gastos, a dedicação e o planejamento de meses quase vão água abaixo e tudo fica com aparência de relaxo e improviso, graças a profissionais não tão profissionais. Mas a música superou plenamente o que o público possivelmente considerou como “imprevistos”.

Teatro lotado, luzes apagadas, com um facho somente sobre o piano. As notas surgem, límpidas, perfeitas. E uma atmosfera densa e mágica começa a descer sobre a plateia. Fechei os olhos e deixei-me levar por Johann Sebastian Bach. Que concerto! E que público elegante e educado. Um silêncio reverencial e aplausos calorosos, exatamente como André Matos Moreira e Gabriela Porazzi mereceram.


No final do espetáculo, não tive dúvidas. Dourados estava mostrando seu atestado de maturidade — espaço, respeito e público para um recital de piano. Coisa de gente grande. Coisa de uma cidade que hoje acolhe manifestações culturais dos mais diferentes tipos e tendências. Que coisa boa! Fiquei orgulhosa de minha cidade natal.


Para finalizar e coroar a proposta beneficente do concerto, o GAAD-Acolher — Grupo de Apoio à Adoção de Dourados — já recebeu o montante arrecadado com a bilheteria. Possivelmente um valor quase simbólico perante as necessidades do Grupo, mas, com certeza, uma doação milionária de carinho. Sinto intimamente que cada centavo doado está impregnado pela magia da música. Uma magia emanada por quem saiu de casa à noite para ouvi-la e compartilhá-la. Um afago. Simples assim!

 

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