Eis a questão! Para
muitas mulheres, um assunto sério; para outras, uma bobagem. Quem não gosta de
cabelos brancos fica horrorizada ao vê-los — enquanto quem é adepta, ama. O
curioso é que a maioria esmagadora das mulheres abomina fios brancos. Nem toca
no assunto. Usa tinturas das mais diferentes tonalidades e cala-se. Se
questionada com insistência, tem uma reação quase unânime: “É horrível... Envelhece!”.
E então resta ao inevitável e implacável tempo passar desapercebido, camuflado:
cabelos tingidos ao menor sinal dos indesejáveis fios.
Que moda é essa que
perdura há décadas e envolve uma espécie de tabu? Mais uma vez nos tornamos
reféns da indústria de cosméticos? Se tintura é tão bom assim, por que os
médicos recomendam que as grávidas não façam uso desse produto? Boa parte das
tinturas contém amônia, substância tóxica para o bebê. E a longo prazo não seria
nem um pouco tóxica para adultos?
Fico pensando na
capacidade de manipulação da propaganda de cosméticos. Por que tantas pessoas hoje
enxergam os cabelos brancos como “coisa de gente relaxada” ou até como uma
caricatura aceitável apenas em senhoras simpáticas e “bem velhinhas”? Será que
compramos a ideia de que um corpo e um rosto envelhecidos passam desapercebidos
quando os cabelos estão tingidos? Trata-se de uma reação de medo à crescente
onda de descrédito e desprezo aos idosos? Parece-me que as mulheres, cuja
longevidade é comprovadamente maior que a dos homens, tendem a tornar-se
vítimas desse autodescaso ao envelhecerem, ainda mais sem seus parceiros. A
velhice, principalmente a feminina, costuma ser solitária.
Há quem veja as idas
mensais, ou quinzenais, ao cabeleireiro como uma atividade importante na
socialização das idosas. Eu prefiro ler, conversar, tomar um cálice de vinho,
mexer nas plantas ou fazer centenas de outras coisas, inclusive ir ao
cabeleireiro periodicamente para cuidar de minhas alvas madeixas. Estou
adorando ficar com os cabelos nevados. Pelo menos por enquanto. Se der vontade,
basta voltar a pintá-los. Incoerência minha, depois de todos esses argumentos?
É sim, e daí? Uma das coisas boas de envelhecer é, definitivamente, não dar a
mínima para o que pensam de você. Isso é quase tão bom quanto sexo na
menopausa.