quinta-feira, 12 de setembro de 2013

Sabores celestiais

Ao criar a ordem dos beneditinos, no século VI, São Bento acreditava que “um verdadeiro monge vive do trabalho de suas mãos” e assim estabeleceu que cada mosteiro seria construído de tal forma que nele houvesse padaria, horta, queijaria, pomar e oficina para atender as necessidades da comunidade. Em seus preceitos, a vida de um monge era feita de orações e trabalho — ora et labora!

Em pleno século 21, em São Paulo, o Mosteiro de São Bento não foge às regras de seu patriarca. Além de produzirem grande parte de seus próprios alimentos, os beneditinos vendem seus bolos, pães, geleias e biscoitos, cujas receitas seculares são transmitidas somente de um monge para outro. Acredito que a expressão “é para comer rezando” tenha surgido após a degustação de algum destes produtos: “Laetare” (bolo originado no Mosteiro de Tibães, em Portugal, feito à base de limão, canela e farinha de amêndoas), “Dom Bernardo” (que, com nozes, gengibre, pêssego, café, chocolate e conhaque, é um bolo que os monges franceses faziam nas grandes festas litúrgicas) ou, quem sabe, os brasileiríssimos “Pão Bento” (criado por monges paulistanos, com mandioquinha como principal ingrediente) e “Bolo dos monges” (elaborado com vinho canônico e açúcar mascavo desde o final do século XIX).

Como se não bastasse, os beneditinos nos oferecem outros sabores celestiais que, se não fossem tão abençoados, deveriam nos levar direto ao fogo dos infernos, tal a intensidade das tentações (e a gula é pecado mortal...). São biscoitos que derretem na boca e que levam desde alho-poró e azeite de oliva até ingredientes imprevisíveis, como água de flores de laranjeira. Tentadora como poucas é também a versão monástica do “Cantucci”, biscoito italiano de amêndoas, tradicional da Toscana.

A gênese das iguarias, intercalada com orações, parece surtir forte efeito nos nomes com que são batizadas: Alleluia, Pax, Lúmen, Santa Maria, Santa Escolástica, Benedictus, Dominus, Angelorum... Infelizmente, tais segredos da abadia podem ser degustados somente em São Paulo, na Padaria do Mosteiro. Menos mal. Graças a minhas ralas observâncias religiosas e hábitos de pecadora contumaz, posso fazer penitências antes e depois das viagens, barganhando (desavergonhadamente) créditos e débitos em minha contabilidade de penas capitais.

Só me resta convidá-los: pequem comigo! Antes e depois da produção de suas delícias tentadoras, os beneditinos oram muito; com certeza por todos nós também.
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Padaria do Mosteiro de São Bento, em São Paulo:
Matriz: Largo de São Bento, s/n, Centro.
Filial: Rua Barão de Capanema, 416, Jardins.

Cada latinha vem com dois cupcakes de chocolate com nozes.

Minibolo Laetare

Caixinhas com trufas.

A filial da Alameda Barão de Capanema.

 

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