Ao criar a ordem
dos beneditinos, no século VI, São Bento acreditava que “um verdadeiro monge
vive do trabalho de suas mãos” e assim estabeleceu que cada mosteiro seria
construído de tal forma que nele houvesse padaria, horta, queijaria, pomar e
oficina para atender as necessidades da comunidade. Em seus preceitos, a vida de
um monge era feita de orações e trabalho — ora
et labora!
Em pleno século 21,
em São Paulo ,
o Mosteiro de São Bento não foge às regras de seu patriarca. Além de produzirem
grande parte de seus próprios alimentos, os beneditinos vendem seus bolos,
pães, geleias e biscoitos, cujas receitas seculares são transmitidas somente de
um monge para outro. Acredito que a expressão “é para comer rezando” tenha surgido
após a degustação de algum destes produtos: “Laetare” (bolo originado no
Mosteiro de Tibães, em Portugal, feito à base de limão, canela e farinha de
amêndoas), “Dom Bernardo” (que, com nozes, gengibre, pêssego, café, chocolate e
conhaque, é um bolo que os monges franceses faziam nas grandes festas
litúrgicas) ou, quem sabe, os brasileiríssimos “Pão Bento” (criado por monges
paulistanos, com mandioquinha como principal ingrediente) e “Bolo dos monges” (elaborado
com vinho canônico e açúcar mascavo desde o final do século XIX).
Como se não
bastasse, os beneditinos nos oferecem outros sabores celestiais que, se não
fossem tão abençoados, deveriam nos levar direto ao fogo dos infernos, tal a
intensidade das tentações (e a gula é pecado mortal...). São biscoitos que
derretem na boca e que levam desde alho-poró e azeite de oliva até ingredientes
imprevisíveis, como água de flores de laranjeira. Tentadora como poucas é
também a versão monástica do “Cantucci”, biscoito italiano de amêndoas,
tradicional da Toscana.
A gênese das
iguarias, intercalada com orações, parece surtir forte efeito nos nomes com que
são batizadas: Alleluia, Pax, Lúmen, Santa Maria, Santa Escolástica,
Benedictus, Dominus, Angelorum... Infelizmente, tais segredos da abadia podem
ser degustados somente em São
Paulo , na Padaria do Mosteiro. Menos mal. Graças a minhas ralas
observâncias religiosas e hábitos de pecadora contumaz, posso fazer penitências
antes e depois das viagens, barganhando (desavergonhadamente) créditos e
débitos em minha contabilidade de penas capitais.
Só me resta
convidá-los: pequem comigo! Antes e depois da produção de suas delícias
tentadoras, os beneditinos oram muito; com certeza por todos nós também.
_________
Padaria do Mosteiro de São
Bento, em São Paulo :
Matriz: Largo de São Bento, s/n,
Centro.
Filial: Rua Barão de
Capanema, 416, Jardins.
Cada latinha vem com dois cupcakes
de chocolate com nozes.
Minibolo Laetare
Caixinhas com trufas.
A filial da Alameda Barão de Capanema.