Extraído do Observatório da Imprensa
Edição 793, de 8 de abril de 2014.
As costeletas
adensadas do delegado Sérgio Paranhos Fleury deslocavam o centro de gravidade
nos contornos daquele semblante obscuro. A região acima da testa se dissolvia
na sombra, em fade out,
enquanto os maxilares se fixavam como chumbo na base do rosto, daí descendo
sobre os ombros. Eram ombros em declive, no formato de uma seta. Ou melhor, de
uma gota. O homem era uma gota gigantesca, descerebrada, uma gota de metal e
vísceras. Nas fotos em preto e branco vemos seus olhos, ora amortecidos, ora
mortíferos, refletindo não a alma, mas as vísceras. Fleury dedicou a vida, com
muito suor e notável determinação, a perseguir, torturar e matar cidadãos
indefesos. Imortalizou-se como o ícone maior da tortura no Brasil.
Que tenha sido
também ladrão nas horas vagas não é o de menos. Nestes tempos em que a memória
do golpe de 1964 ocupa o noticiário, há uma leitura obrigatória, que narra em
detalhes um episódio em que o delegado tomou para si o que não lhe pertencia. O
nome do livro é Minha Vida de Terrorista (São Paulo:
Prumo, 2013), de Carlos Knapp.
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Eugênio Bucci é jornalista, professor da ECA-USP e da
ESPM
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