domingo, 8 de junho de 2014

Esses companheiros inseparáveis... Nossos bichos!



Passei muitas noites de minha infância agarrada a um leãozinho de retalhos de pano. Com sua longa juba de listras amarelas e duros olhos negros de botões, ele me protegia de seres noturnos enigmáticos que habitavam a fazenda nas fases de lua nova, quando tudo ficava escuro como breu e inundado por ruídos indecifráveis. Com os olhos cerrados eu enxergava grilos gigantes, curiangos com olhos esbugalhados e onças que passavam lentamente por minha janela. Guardião de meus sonhos, aquele leãozinho afugentava os monstros de meus pesadelos.

Bichos de retalhos são raros hoje em dia. Foram substituídos por pelúcia e outros materiais sintéticos, antialérgicos. O meu ficava imundo e mudava a cada lavada... Desfiava, desbotava, envelhecia – um leão perecível, tal qual a vida a meu redor. E, aos poucos, seu rígido olhar de botões foi substituído por olhares mansos e mutáveis. Aprendi a conviver com o medo e a apreciar, mais e mais, os animais vivos.

Ah, nossos bichos... Em nome deles, e graças a eles, damos vazão a muitos sentimentos e atendemos necessidades de alimentação, de segurança, de companhia. Assim, evolutivamente, passamos de coletores e caçadores a “criadores”, domesticando nossa comida, e também introduzindo bichos no convívio doméstico. Selecionamos, século após século, as qualidades desejadas: agressividade, mansidão, obediência.

Cães não nos amam incondicionalmente. Simplesmente fizemos a seleção de cruzamentos de raças dóceis que tivessem, cada vez mais, a propalada fidelidade canina e aquele olhar de entrega que derrete corações. Pesquisas arqueológicas revelam que a domesticação dos cães ocorreu há pelo menos 10 mil anos, e algumas escavações mostram que eles alcançaram tanto prestígio que eram enterrados com seus donos. No Egito e na Grécia, os cultos ao deus Chacal e a Argos – o cão de Ulisses – são testemunhos de nossas profundas e místicas relações. Mas ninguém supera os gatos em questões sobrenaturais. A historiadora Mary Del Priore relata que em tempos remotos eles eram vistos como enviados dos deuses e tinham tanta importância entre os egípcios que, se um gato morresse, toda a família se enlutava.

Séculos de convivência... Cães e gatos povoam nosso cotidiano e continuam a encantar meninos e meninas (e adultos também). Acredito que ganhamos pontos na escala evolutiva com esse convívio. Aprendemos com os bichos como é ficar mais humanos.

FONTE DA IMAGEM: meu cachorrinho... afinal, sou uma humana aprendiz.


domingo, 1 de junho de 2014

Semana do meio ambiente ou do ambiente inteiro?



Há décadas, a primeira semana de junho vem sendo celebrada como a “Semana do Meio Ambiente”, desde a designação, pela Organização das Nações Unidas, do dia cinco de junho como “Dia Mundial do Meio Ambiente”.

A partir desse marco de divulgação, a ONU utiliza a data anualmente para difundir e debater temas ambientais e, através do seu Programa de Meio Ambiente, promover ações políticas que chamem (ou que deveriam chamar) a atenção mundial para a conscientização sobre problemas ambientais.

Na página do Ministério do Meio Ambiente, na internet – http://www.mma.gov.br/ – estão disponíveis várias informações sobre o tema, além de traduções das mensagens (interessantes e esclarecedoras) do secretário-geral da ONU e do diretor-executivo do PNUMA (Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente), fornecendo dados sobre a situação mundial dos nossos mares e oceanos.

Questões ambientais! Sejam elas sobre o mar ou sobre a terra, envolvem educação, mas não somente a educação formal. Falo de uma educação informal, reconhecida e utilizada no cotidiano, como, por exemplo, um gesto natural e espontâneo de não jogar o papel de bala pela janela. Um simples e pequeno ato consciente. Não importa se do outro lado dessa janela está o seu quintal, uma rua, uma estrada ou um rio. O que importa, de fato, é reconhecer que, para além da janela, está o planeta. E que ele seja visto, com toda naturalidade, como O SEU QUINTAL.

Confesso que estou saturada de semanas do meio ambiente. E também dessa curiosa denominação – MEIO AMBIENTE –, que significa “conjunto de fatores físicos, biológicos e químicos que cerca os seres vivos, influenciando-os e sendo influenciado por eles” (segundo o Houaiss), onde o uso da palavra MEIO é totalmente desnecessário, já que, ainda de acordo com o mesmo dicionário, AMBIENTE significa “tudo que rodeia ou envolve os seres vivos e/ou as coisas; meio ambiente”. Nossa língua portuguesa é realmente deliciosa e generosa, esbanja palavras: meio ambiente significa ambiente.

Mas voltando à minha saturação: passei décadas promovendo e/ou participando de semanas de ambiente (percebeu como soa estranho?), ou melhor, de meio ambiente, e ao término de muitas delas assisti manifestações espontâneas de crianças (e principalmente de adultos) demonstrando que o envolvimento com a tal semana fora meramente um ato social, um evento que teve começo, meio e fim. Nada mais. E assim, após discussões sobre o lixo, reciclagem e todos os seus problemas, o exausto pai de família, retornando para casa com o filho, joga displicentemente a sua latinha vazia no terreno baldio à margem da avenida.

O que é mais importante para o filho desse homem: o que ele ouviu na escola ou o que seu pai faz cotidianamente? Esse pai um dia vai levá-lo a uma pescaria. (Pobre rio...) Esse pai pode um dia ser vereador, ou prefeito. (Pobre cidade...) Esse pai pode um dia começar a produzir alimentos para a comunidade. (Pobre comunidade...)

Por essas e outras, estou cansada de celebrações para o meio ambiente, com sessões intermináveis de discursos, palestras e plantio de árvores, para assistir depois aos mesmo gestos e atos de total desrespeito ambiental. Quero celebrações diárias, naturais, espontâneas, contínuas, semana após semana, de compreensão e convivência harmoniosa com o AMBIENTE INTEIRO.

Quero assistir atos de respeito e cuidado com o nosso quintal, justamente ele, nosso quintal único: uma linda bola azul que flutua, pequenininha e frágil, na imensidão do cosmos.

ATENÇÃO - Esse texto foi escrito em junho/2004. Exatamente! Não é erro de digitação. Não é de 2014! E Então... mudou muita coisa? Pense nisso!
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FONTE DA IMAGEM: WWF – “Desertificação destrói 6.000 espécies cada ano” - clique sobre a foto para ampliá-la.
 

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