sexta-feira, 23 de janeiro de 2015

Para sair de uma urucubaca...




Recentemente fiz uma experiência, inadvertidamente, sobre o papel de pessoas que considero como raras. São as amigas e os amigos. Uma presença muito forte em minha vida e, consequentemente, um tema inesgotável em minhas crônicas.

Tudo começou com conversas, e-mails e whatsapps sobre acontecimentos recentes — furtos, doenças, mortes, explorações financeiras e até pequenos, mas devastadores, mal-entendidos. Quando percebi, eu havia me deixado envolver a tal ponto pelos eventos, que estava sendo soterrada sob uma onda de energia muito ruim. Com falta de ar e assustada, pedi socorro.

Recebi conselhos, orações e receitas de todos os tipos. Algumas não muito publicáveis; outras sim, como estas:

“Reze, amiga. Reze sempre!”

“Já experimentou a Veuve Clicquot brut? Fantástica. Caríssima, mas não dá nem sombra de ressaca rsrsrs e o mundo fica melhor.”

“Lembre-se que o Senhor dá fardos de acordo com os ombros de quem os recebe!”

“Para de lengalenga e vai encher a cara. Nenhum FDP vai ficar te incomodando depois de uma dúzia de cervas estupidamente geladas. Tudo isso é esse calor infernal.”

“Toda noite, ao deitar, faça orações para seu anjo da guarda que ele irá protegê-la. Diga, com muita fé: Santo Anjo do Senhor, meu zeloso guardador, se a vós me confiaste a providência divina, guardai-me, iluminai-me, amém!”

“Sai dessa, mulher! Você é mais forte que esse clima do mal. Vai tomar quatro banhos de cachoeira e, durante sete dias, use sal grosso nos quatro cantos do seu quarto.”

“Fiz oferendas para Iemanjá na passagem do ano e pensei muito na nossa amizade. Não se esqueça que você é uma querida filha dela, um tipo muito maternal. Você precisa aprender a se fechar para maus espíritos por que a porta da sua casa está sempre aberta para acolher junto de si todos que a procuram. Mas Iemanjá protege suas filhas. Vou fazer um trabalho de descarrego pra você. Seus caminhos ficarão desimpedidos.”

“Já te disse que odeio essa distância entre nós. Mas hoje já temos a Azul, a Arvoredo... ou é Passaredo... kkkk... até o Rio e depois pegue um voo e venha pra cá. Tem promoções da Lufthansa. Vamos tomar chocolate quente com rum em frente a lareira e rir. Estou com saudades das suas gargalhadas.”

“Existem fases em nossas vidas que tudo parece que vai desmoronar. Não creia nisso. Você passou por muitos (piores) obstáculos. Fique tranquila que daqui faremos vibrações para você. Mas não se entregue. Abração.”

“Saia para andar descalça, pisando na grama. É muito bom.”

“Cante, bem alto, no final da tarde: Hare Krishna, Hare Krishna, Krishna Krishna, Hare Hare / Hare Rama, Hare Rama, Rama Rama, Hare Hare. Esse antiquíssimo mantra é uma invocação de amor e devoção.”

“Não reprise mentalmente os episódios. Vá para um local aberto, pegue um copo com água e outro vazio e verta a água de um para o outro, para arejar, umas 20 vezes ou quanto sentir que deva. Depois tome a água. Não se ocupe de notícias negativas. Evite mentalizar críticas ruins. Elas drenam sua energia e te deixam vulnerável. Vigie toda reação ou postura mental que te tire do eixo. O que está sem eixo fica à mercê. Se não souber com o que se ocupar hoje, veja coisas bonitas, leia poesia inspiradora...”

“Use floral de Bach.”

Somente hoje notei que meu grito de desespero foi respondido carinhosamente por amigos ateus e espiritualizados, praticantes de diversas religiões — budista, católica, muçulmana, umbandista, presbiteriana e kardecista. Literalmente, uma legião ecumênica. Diante de tanta intolerância religiosa rondando as pessoas, me senti resgatada e inundada por uma forte luz de discernimento. Como é bom perceber que nenhuma venda me cobre os olhos.

Mas depois fiquei pensando na pretensão de “nenhuma venda”. Sou uma aprendiz na vida, uma tola inexperiente em questões espirituais, nem sempre humilde. Entretanto, até onde posso enxergar no momento, estou liberta de antolhos e amo pessoas de diferentes tipos e crenças, não apesar disso, mas também por isso. O importante é que as conheço bem, há muitos e muitos anos. Elas são boas no que fazem, conseguem manter diálogos inesgotáveis, são inteligentes, divertidas, sérias, irônicas, companheiras e, principalmente, não fazem, voluntariamente, mal a ninguém.

Acordei inundada de azul, sorrindo, com a alma leve como há tempos não sentia. Só me resta dar graças à minha legião de benfeitores e cantar, como Emmanuel Marinho em seus versos: “Amigo é bom. Amigo é tão bom!”.
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FONTE DA IMAGEM: http://conexaopromessa.com.br/
 

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