Há quem observe estrelas, planetas e
satélites. Por vezes quero vê-los, mas sou mais ligada a coisas terrenas, desde
as menos descomunais até as bem pequenininhas. Nunca olhei em um telescópio,
mas microscópios já usei vários. Quando menina, com uns sete anos, levaram-me a
uma universidade e, em um laboratório de pesquisa, vi a vida como sempre me
pareceu ser: repleta de movimento. Só que o movimento que me mostraram,
incessante e surpreendente, vinha de uma planta! Uma pequena folha de Elodea ―
planta aquática muito utilizada em aquários ― foi colhida da água em minha
frente, colocada em uma lâmina de vidro e posicionada sob o microscópio, onde,
sem truques nem mágica, aquela folhinha converteu-se em um piso de tijolinhos
transparentes em que milhares de bolinhas verdes rodopiavam sem cessar.
Incrédula, pedi para ver outra folha, que eu mesma arranquei. E o balé se
repetiu. Havia vida naquela planta estática, que até então parecia obedecer só ao
movimento da água. E era uma vida bem agitada. Nem preciso dizer que nunca mais
olhei para gramas, arbustos, árvores e flores, com o mesmo olhar. (Ao voltar
para casa, cheguei a fazer um funeral para uma violeta morta...)
Fui crescendo e percebi que a vida
gosta de agitos. A ausência de movimento é morte. Tudo no universo gira, como
se dançasse uma valsa, ou rodopia em espiral, como que trançando fitas em um
poste de festa de São João. Os biólogos, os físicos e os astrônomos já nos
mostraram que, do micro ao macro, sempre existe algo que se move: elétrons ao
redor do núcleo atômico, luas em torno de seus planetas e planetas dando voltas
em estrelas. Alguns
movimentos, como a luz e o som, são perceptíveis a nossos sentidos; outros não.
São giros, oscilações, órbitas, pulsos, ondas: uma infinidade de termos para
diferentes estilos de dança.
Mas me parece que nenhum movimento tem
mais ritmo que a vida. Até nosso coração, quando bate descompassado, entra em arritmia. E no meio de
tanto encantamento ainda existem pessoas (e, assustadoramente, cada vez mais)
que, ditas racionais, não respeitam a vida. São as que deixam barragens de lama
romperem e matam por omissão; as que treinam para serem defensoras de
determinada fé e matam por opção (para ganhar o paraíso!). Acho que esses assassinos,
fanáticos religiosos ou não, nunca brincaram de roda. Tristes crianças adultas
que só sabem brincar de descaso e ódio: as únicas brincadeiras que conheço que
não têm riso, giro e nem rodopio; só descompasso, arritmia. E assim terminam, levando
consigo a impressão de que viveram um dia.
[FONTE DA IMAGEM: Escultura de Sandra Guinle. “Ciranda
mista”, 2003]